postado por Ander
Acordou com o despertador. Acordou com a função soneca do despertador. Acordou com uma ligação de mariana querendo comprar ingressos pra peça de Clarice Lispector. Com dor de cabeça preparou o café e duas torradas, não iria mais pra aula, foda-se, com tanta angústia seria impossível conceber o mundo em teorias. Pensava muito sobre a ligação que precedia todos os despertares: a da noite anterior. Para joão as decisões eram muito difíceis, pensava e culpava-se em excesso. Sentia-se amado, mas não aprovado, podia garantir que sua fragilidade irritava seu pai, um exemplo de força e de…força! e era só isso. “Tem muito mais coisa que resistência às más condições nessa vida!”, mas o que um moleque de merda poderia saber? “será que tem mesmo?”
Difícil mesmo era explicar a reprovação, querer concordância, o que a princípio, parecia só um capricho mimado de quem tem que ter sempre apoio. No fim das contas conseguir o que queria era fácil, o que doía era pensar o que pensavam os outros em seus íntimos, maldizendo cada decisão “errada” que joão tomava, por ser aéreo demais, por ser viado demais, por ser sensível demais….mas era mentira!, ele tinha mariana, ele tinha coragem de ler as coisas mais profundas que cutucavam lá no fundo, ele enfrentava a vida sim, e apesar de lutar em seu intimo anárquico contra aquela merda de mito do bem sucedido ele tentaria ser um! E se tudo desse errado estava disposto a revelar o que o tinha deixado tão medroso durante toda a vida: toda criança é um fita virgem onde são impressas as coisas do mundo, e traumas são traumas, não podem ser retirados, o máximo que se pode fazer é gravar por cima e por cima. Mas os fragmentos sempre ficarão! Porque ninguém tinha proibido seus pais de inscreverem ele naquele maldito trabalho de ator mirim? Até hoje tinha medo de pessoas, mesmo daquelas que queriam o ajudar, sentia-se de novo com um ano e seis meses: ainda era o rapazinho do clipe: sua vida até hoje ainda era aquela animação a partir dos 4:55 do clipe.