Nerdinho 1 699

postado por Caco.

Ronaldo, ou Naldinho como era chamado pela família, estava no computador em sua casa sem ter muito que fazer. O menino levado de sete anos começa a fuçar em tudo. Eis que acha um DVD de seu irmão mais velho. Adivinha o que era? Hunm, hunm… Alguém, alguém sabe? Não?! Era um disco com toda a série “Star Wars” com qualidade meia boca ripado da internet. Naldinho não pensou duas vezes e prontamente pôs-se a assistir o primeiro episódio da trilogia, que na verdade é composta por seis filmes, e se apaixonou muito pelas idéias, lutas, naves, espadas de luz, lasers…

Aproveitando que seu irmão havia viajado, decidiu assistir a todos os filmes sem sair do quarto. Tinha o final de semana todo pra isso. Mas logo no segundo longa metragem descobriu que sua mãe, empunhando uma Havaiana azul número 44 de seu pai, poderia derrotar até o mais forte cavaleiro “Jedi” que já existiu. Então com breves pausas, forçadas, para banho e refeições ele assistiu a todos os filmes. Prestava muita atenção em como os poderes eram usados, pois assim ele também poderia se tornar um “Cavaleiro Jedi”.

Segunda-feira logo cedo ele foi à escola e lá encontrou seu arquiinimigo, Joãozinho, por coincidência menino com mesmo nome e mesmas peripécias do famoso pestinha das piadas, o terror da escola. Como de costume, logo após avistar Naldinho, Joãozinho apanha uma pedra e arremessa na direção do pequeno “Padawan” que rapidamente estica sua mão esquerda à frente e concentradamente tenta segurar a pedra com seus poderes, o tranco foi grande, a pedra deu no meio da cabeça do menino que foi levado rapidamente ao hospital.

Depois do ocorrido Naldinho, agora com um baita curativo e três pontos na cabeça, sentiu que somente a “força Jedi” não seria suficiente para derrotar seu oponente. Decidiu então passar para o “lado negro da força”, agora nas ausências de seu irmão, Naldinho usa o computador para baixar toda a série “Star Trek”.

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Distante das Linhas de Nazca 0 1274

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1212

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski