postado por Ander.
Ele deitou em minha cama porque queria conversar, mas não foi essa a desculpa usada pelo capricorniano que sozinho do alto de seu penhasco chegava com uma pomada de canfora pedindo massagem nas costas. A cada movimento circular que gelava a sua dor muscular soltava um desabafo. E quem lê assim, até pode pensar que k. é calado. Não, não é, ele fala o tempo todo: o que pensa sobre o corpo, o movimento, a poesia, o individualismo, o amor. Ele é artista e agora finalmente sinto que estamos ficando próximos. Ficou horas aqui no meu quarto, falamos sobre tantas coisas(ele estava com insônia). Eu? Na verdade poderia dormir a qualquer momento, se quisesse, mas fiquei ali escutando o bodezinho de cabeça dura que na juventude em Salvador foi salvo da loucura por uma tendinose no ombro. Isso mesmo, ele estava indo embora, descolando-se da realidade, então se machucou e a dor no ombro esquerdo provou pra ele que alguma coisa existia. Realidade. Ele buscou a cura, a família desistiu de interná-lo, ele foi embora da Bahia e hoje mora aqui no quarto ao lado, sempre anda de cueca pela casa e me ensina a cozinhar.