Solicito à população 0 629

postado por Rafaé

Meu caro povo amapaense e maranhense; enfim, todos os brasileiros que mamam nas tetas dessa vaca chamada Brasil também meu. Esta requisição é, na verdade, um apelo que faço. Sei que não estou com muita moral junto a vocês, não que eu me importe, mas gostaria de ter o direito a mais uma única nomeação. Calma! Não é parente meu.

Na verdade, eu quero nomear o maior brasileiro mentiroso do século 20. Não é Ronaldo, não é Xuxa, muito menos Sebastião Salgado. Glauber Rocha, esse sim foi o mentiroso que causou o maior estrago na nossa cultura, principalmente hoje, em tempos de Youtube.

Onde é que se viu, dizer que fazer cinema basta: “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”? E o talento? E o senso do ridículo? Pra ele era fácil ignorar esses fatores em uma época que só filmava quem tinha dinheiro. Mas hoje, qualquer um faz um lixo vídeo qualquer e joga na grande lixeira que nunca transborda: a web.

E agora, nem a minha banda favorita (Os Metralhas) (Pretenders) escapou de uma egocêntrica. Lamentável. Gostaria de poder fazer esse bem para todos os usuários desse mundão que nem sei se existe: a Internet. Vamos protestar!

Grato pela atenção, e certo da compreensão;

Sir Ney.

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Distante das Linhas de Nazca 0 1277

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Gente que canta quando bebe 0 867

Relacionamento novo. Ambos tateiam, tentam entender limites, inventam razões para consenso, evitam reações exageradas aos defeitos um do outro e usam abordagens sutis para descobrir informações.

Os dias são tranquilos, as noites de encontro agitadas e os sorrisos abundantes – uma jangada em rio sereno.

Ele sugere uma ida ao cinema, ela concorda e demonstra interesse. Marcam às 19h20 na entrada de trás do Shopping Crystal, de frente para o Dog do Japa.

Ela acha que não tem roupa à altura do programa, e avisa-o dessa preocupação via Whatsapp. Ele argumenta “imagina, claro que tem. Lá é tranquilo, não tem nada de mais!”, e ela responde “kkkk”, mas não deixa claro se aceita o ponto levantado por ele, que finge despreocupação, mas passa na C&A da XV de novembro para comprar uma pólo branca e esconder a camiseta do Weezer na mochila.

Ele toma um banho de pia, veste a camisa nova, compra os ingressos e senta na praça de alimentação para esperar. Pede um suco do Tropical Banana e abre sua cópia de A morte e a morte de Quincas Berro D’água. Relaxa.

Ela liga, pede rapidez pela escassez de crédito no celular, dá alguma desculpa estranha e cancela.

Ele diz que tudo bem e termina o suco. Respira. Compra dois chopps 500ml no débito, pega o primeiro e senta de novo, no mesmo lugar. Gasta tempo na internet, já que o wi-fi é grátis. Lê críticas elogiosas ao filme e decide continuar com o plano original. Lembrou que não é homem de submeter emoções aos caprichos de ninguém.

 

Marco Antonio Santos