Postado por Marília
Lucía. Lucía. Acorda. Eu estou acordada. É que estava pensando que podíamos conversar um pouco mais já que nós dois não conseguimos dormir. Eu não aguento mais conversar, desculpe. Tudo bem, mas é que pensei, olhe pra mim. Não consigo te olhar, o quarto está escuro. Então olhe na direção da minha voz. Aqui? Sim. Vou tocar na sua perna. Como sua mão está gelada. Eu sei, é que pensei que não ter certeza de nada abre muitas possibilidades. Eu disse que não quero mais conversar e você está começando mais uma vez. Não, eu não quero conversar. Eu quero dormir. Faz tempo que você quer dormir e não consegue. Talvez eu queira continuar tentando. Por que às vezes você demora tanto para compreender algo tão simples? Eu não estou tentando entender nada. Você faz isso por querer ou é sincero? Por querer. Antes você sempre dizia que era sincero. Agora não é mais. Você não é mais sincera? Não. E o que você é? Não sei. Isso foi sincero? Muito. Que bonito você rindo. Você nem está me vendo rindo. Mas eu escutei e senti. Eu já disse que sua mão está gelada e aí ela parece mais gelada ainda. É como ver o seu sorriso, você entendeu? Eu sei que entendeu, porque você sempre começa a rir sem parar assim quando entende. Eu estou rindo porque isso está fazendo cócegas. Então você não compreendeu? É claro que sim, mas isso só faz sentido por causa do escuro. O escuro dá o tom de incerteza e era sobre isso que você queria tanto conversar? O que você acha disso? Acho que ainda vai demorar para amanhecer.