postado por Rafaé.
A vida nunca havia sido muito concreta com ele. Bruno experimentava seus sentimentos como quem toma um cafézinho enquanto aguarda pra ser atendido em uma imobiliária – com goles curtos e mornos. A prudência sempre foi sua maior marca. De certa maneira, as doses homeopáticas são a melhor forma de absorver a vida sem consumir a si mesmo (ou quase isso).
Sentimentos e experiências intensas exigem muito de si, o que acaba reduzindo a vida útil de um indivíduo. O cabo de guerra, seja entre a santidade e a libertinagem, ou a razão e a delinquência, acabam por dilacerar os que tendem para algum lado. Por isso, o conforto do meio termo sempre se faz presente. Pessoas medianas tendem a viver mais, por não lidarem com suas vontades, em prol da tão almejada estabilidade.
Estabilidade. Existe algo mais mediano?
Sendo assim, Bruno almejava sua vida longa. A prudência sempre o poupara de desafetos. A tristeza nunca o abatera, pois encontrava sua felicidade em fatos cotidianos, que sempre estariam ao seu redor. Suas realizações sempre foram eminentes, pois seus sonhos nunca foram além do alcance de seus braços.
Limitar os sonhos. Aí está outra estratégia para evitar frustrações. Pra que sonhar com algo que lhe consumirá a vida, sem a garantia de uma realização? A angústia da incerteza do sucesso o consumirá constantemente, o conduzindo ao fracasso. Sim. É claro que isso é uma canalhice só, que serve de consolo aos medianos.
E assim Bruno conduziu sua vida, até o fim. Ora experimentando os prazeres próximos, ora poupando-se das incertezas da vida. Sua vida era conduzida pela linha-visível-da-vida-mediana. Nenhum de seus sentimentos foi mais doce que uma bolacha de maizena, ou mais amargo que uma limonada gelada.