Não Há Nada Que Você Possa Fazer 0 605

postadopormarcoantonio

O céu vai te esmagar.

É o que grita George Pettit nos versos de “Crisis”, do Alexisonfire. A constatação da desgraça iminente, que não pode e não vai ser evitada cede ao ouvinte atento uma analogia auditiva com o que seria, caso fosse imagem, um sóbrio quadro de desespero. De cores fortes e pinceladas intensas, ou algo assim, que de artes visuais não entendo nada.

Parece-me interessante pensar que se a canção versasse simplesmente sobre uma cidade sendo destruída pela ação do fogo, a letra não chamaria tanto a atenção. Estaria o autor fazendo uso de elemento literário corrente e recorrente que sugere a idéia de destruição. O símbolo do fogo para tal resolução criativa seria adequado, bem vindo, e talvez até trabalhado de forma inédita e interessante. Mas preferiu o compositor usar a neve como causadora da situação. Há ainda mais alguns fatores sobre os quais não digo nada, porque não os compreendo a ponto de poder fazê-lo. Por exemplo, Dallas Green de tempo em tempo interrompe o “cantor oficial” da banda para avisar que a estória se passa em 1977.

E o melhor, penso eu, é a quantidade de exemplos que o personagem narrador dá que servem para elucidar a nossa percepção. Cita o caso de alguém dirigindo e que pode ter seu carro como caixão durante a tempestade que está vindo “no ano em que o punk morreu”, do viciado em drogas que está trancado em casa e que não vai ser ajudado por ninguém, entre outros. Mas, o mais interessante: Sem emitir  nenhum juízo de valor sobre sentimentos pessoais, no entanto.

Sem aprofundar-me em tema algum da obra, e torcendo para que alguém fale algo sobre, para que iniciemos um diálogo, me despeço, por ora. Sei lá, deve ter veneno naquele riff dissonante do começo, e espero que mais alguém note, além de mim. Algo de desesperado e urgente, talvez?

Beijos a ninguém. Flores mortas para todos nós.

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Distante das Linhas de Nazca 0 1274

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1211

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski