Postado por: Reporte-se ao seu rei, Marco Antonio
Um quarto razoavelmente escuro. Avermelhado. Amarelado. Lâmpadas especiais. Cama bagunçada. Lençol, roupa de cama e cortinas no mesmo tom de marrom. Escrivaninha, um caderno aberto por sobre, canetas azuis e vermelhas bagunçadas, algumas datas anotadas, algumas confissões confessadas, alguns planos esquecidos, alguns compromissos importantes registrados. E sobre a relativização do que é ou não importante não manifesto pensamento.
Ou manifesto. Que seja, eu me entrego, enfim. Anotações inúteis, no sentido verdadeiro da expressão. Todas elas. Mas ilusões eficazes, ao menos.
Barulho dos carros que passam na rua. É um apartamento no primeiro andar, afinal. Muito barulho na verdade. É ruim para dormir, para ler, para estudar, para distrair, para esquecer, para lembrar, para pensar. Paredes roxas, da cor do Barney. Dinossauro estranho dos programas infantis. Meu sobrinho gosta do Barney. Mas não gosta do quarto.
Muito barulho. Noite e dia. Muitas cores. Muito barulho. Muita bagunça. Poucas alucinações.
Guarda roupa com a porta quebrada. Poucas cuecas limpas. Poucas meias limpas. Poucas camisas limpas. Nenhuma gravata limpa. Três livros começados com marca páginas que nunca vão saber o que marcam. Se o leitor não lembra, quanto mais qualquer pedaço retangular de papel. Ou de cartolina. Ou de papelão, sabe lá o Bom Senhor do material do marca-páginas, ou do que se passa na cabeça do leitor.
A pouca importância. O nada. A confusão. O breve delírio de quem não é são. A mente que tortura quem só queria descansar por um tempo impunemente. O descanso de quem sente que não merece o que tem, e que não vem sequer para olhar nos olhos de toda essa gente.
Beijos para ninguém. Dedicado à colheita da safra de trigo de 2007 no Paraná.