Postado por Marco Antonio
Coitado. Está sozinho se escondendo por trás das casas. Como se os moradores da cidade tivessem algo a ver com a nossa questão. Seus companheiros sumiram, mas todos sempre somem na hora da dificuldade. Não me surpreende que ele revide nossos ataques, mas me surpreende pensar que me flagro imaginando que passe pela cabeça do jovenzinho ali que ele vá sair dessa se atirar mais e mais, e se fugir mais e mais, e se roubar as granadas dos homens que caíram. A munição dele vai acabar em breve, e é basicamente esperar o que precisamos fazer. E é na verdade isto o que fazemos.
Comando a tropa, e posso dizer que vejo lá longe um homem corajoso que nos combate. Quer dizer, combate não é exatamente o termo que define o que eu vejo, nessa situação de 10 contra 1. Ninguém está nos combatendo agora. Só o que vejo é um jovem adiando o próprio massacre. Se eu souber algo sobre a definição da idéia de massacre, a cena que assisto ilustra meu pensamento. O que posso fazer, além de registrar estes pensamentos enquanto espero, é rezar pela alma do jovem, porque em poucos minutos seu sangue vai regar o chão. Pedirei para meus homens que mirem na cabeça, que a dor vai ser menor, e minha consciência vai pesar menos, se assim o for. Como se a minha consciência tivesse alguma importância. Como se a minha consciência já tivesse tido alguma.
Um brinde ao jovem, ou por extensão, um brinde aos corajosos. Que nem sempre são os mais espertos, corretos ou astutos, mas que guardam no ímpeto da ação um certo que de romance e nobreza que nos falta quase sempre.
Ninguém merece beijos. (2)