postado por Muriloco
Numa manhã comum de quarta-feira, um professor, querendo que seus alunos participassem da aula, perguntou a um aluno sobre a matéria do dia. O aluno não havia lido o texto e não estava entendendo nada daquela aula, mas, por sorte, sabia usar bem as palavras. Foi assim:
– E você, Joãozinho, o que acha sobre a questão da pragmática abordada pelo texto?
– Veja bem, professor, e digo veja bem não querendo dizer, obviamente, que você até agora tem tido uma visão incorreta da situação e do contexto que, nesse momento, estamos aqui discutindo, muito pelo contrário, mas enfim, retomando a questão colocada por você e, é claro, já previamente apresentada pelo texto de que estamos tratando, e isso, aliás, faz todo o sentido, pois seria tanto quanto ilógico e até mesmo estranho caso eventualmente acontecesse de você me perguntar sobre uma tese como essa, já discutida nas academias do mundo lá fora, e também, é claro, aqui dentro, como podemos ver nesse exato momento, se ela não houvesse sido previamente oferecida aos discentes aqui presentes na forma escrita, gráfica e impressa, quero dizer, sabe bem do que estou falando, trata-se da tinta sobre o papel.
– Uhum… interessante… mas acho que não consegui entender o seu ponto.
– Caro professor, você como um antigo estudioso das questões aqui discutidas, e longe de mim querer de alguma forma rotulá-lo ou classificá-lo como um ser humano velho, que essa palavra não está nem mesmo nos manuais do que se convencionou chamar, nos dias de hoje, de politicamente correto, mas eu tampouco usaria expressões mais sutis como pessoa de idade ou idoso, porque não vejo aqui um exemplo vivo, obviamente, pois o senhor está visivelmente em plena saúde e juventude, por isso chamei-o de antigo estudioso apenas para querer dizer que você estuda há vários anos, eu suponho, as teses que, e agora retomo o que eu antes queria dizer, não são simples ou simplistas para se dizer em poucas palavras, muito pelo contrário, os conceitos carregam em si uma complexidade característica, e isso torna perfeitamente compreensível o fato, que agora ocorreu, de o senhor não conseguir entender meu ponto. Aliás, como todos podem ver, essa questão pontual é também um ponto, perdoe-me a redundância que, mais do que um pleonasmo, chegou a soar, isso é claro depende da concepção da pessoa que ouviu, como um infame trocadilho, pelo qual mais uma vez peço desculpas, pois não é do meu feitio fazer trocadilhos e esse não foi intencional, mas o que ia dizer é que essa questão pontual pode ilustrar bem essa circunstância.
– Bem… a que circunstância você se refere?
– Ora professor, não é óbvio? À pragmática!
– Ah sim, é claro. Está certo. Mas você conseguiria, por acaso, exemplificar esse seu entendimento do texto, para que possamos visualizá-lo?
– Eu poderia tentar, professor, mas como eu acabei de expor, esmiuçar tal questão a ponto de visualizá-la claramente, me refiro a um estado em que não houvesse dúvidas pairando em nossas cabeças como agora há, apesar de que, afinal, o que é a ciência senão a constante indagação sobre algo? Logo, o que quero dizer é que fazer isso que o senhor me pediu pode, possivelmente, não ser tarefa tão simples ou fácil, ainda mais porque, veja bem, a questão pontual tem um aspecto não raramente permeado pela subjetividade do sujeito e, é claro, pelo contexto a que estamos nos referindo, e isso dá margens a inúmeras interpretações e entendimentos da realidade. Isso vai além do que podemos ver, vai além do que podemos ouvir, vai além do que podemos tatear e, para que não fiquem de fora os outros sentidos, afinal eles não são menos importantes, talvez sejam hoje em dia, mas antigamente tiveram grande relevância no que toca a sobrevivência do homem, enfim, também vai além do degustar e do cheirar. E isso tudo, professor, e obviamente muito mais do que aqui eu pude exprimir em minhas limitadas palavras, é a pragmática. Fui claro?
– Perfeitamente…
É a pragmática, sempre ela!
A DANADA!
E o Murilense, Salomonster apavorando os irmão a cada dia mais!
SALOMESTRE
SALOMIÚDO
SALOMÉDICO
E POR AÍ VAI!
SALOMALANDER!
Logo após o fato citado, cujo eu não estava presente, mas posso, com meu não muito tempo de convivência, mas já suficiente para tal, imaginar o referido professor dando dois passos à frente; um atrás; e mais um à frente. Pareceria um modesto ensaio de danças típicas da metade século passado, lembranças da juventude do mestre, não fossem as mãos reunidas na altura do peito, como quem vai proferir uma prece, mas não nos enganemos: ele faz isso só pra me enchendo o saco. Só isso.
Ééé rapaz, é a fabulosa arte da prolixidade.
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