Paranóia: Alegria Alheia 2 780

Postado por Marco Antonio, o mártir do Movimento Internacional Pró – Bobagens Sem Sentido. Heróico, morreu em batalha.

Pessimismo é questão de ponto de vista para o otimista e de realismo para o pessimista. Defina qual escolha lhe agrada mais, amigo. Faz o que queres que não gastarei tempo observando o desenrolar patético da sua vida. Os acontecimentos banais do seu dia não significam nada para mim. Os que você considera importantes para mim são piadas fracas. Mas, numa boa: vá bem, pela sombra e no seu caminho. Talvez você mereça a tão sonhada paz de espírito. Vai saber. Sei que eu queria merecer a minha.

Assisto a algumas coisas, na televisão do cotidiano. O demônio me força, afinal. Há, no entanto, neste filme algo que não é comum. Pelo contrário. É estranho, sinistro, bizarro, enfim, essas coisas que sugerem desconforto. Claro que é por isso que a história me interessa.

O SORRISO, amigos. Aquele um. O filho da puta não para de sorrir. Eu tenho vontade de socá-lo na cara até ele perceber que não tem nada divertido acontecendo entre nós, pra esse sorriso imortal violentar meu campo de visão. É alegria gratuita, gritante, agressiva, ostensiva, baseada em porcelana, de plástico. Sem razão de ser, enfim. Violenta minhas manhãs com demonstrações de um entusiasmo bobo de quem se diverte enquanto caio de parede em parede me escorando pra tentar enganar o sono. Nunca ganho, nem do sono nem do sorriso. Ele me persegue. Basta abrir os olhos, que lá está ele. Quando paro de fugir e acho que estou em segurança, em minha redoma cósmica de tristeza, ele ressurge. Persistente, mas não virtuosamente falando. É desgraça completa. Maldição pouco dotada de grandeza. Sequer de comicidade, como bem citado por Murilo “Medievo” Lense. O safado deve achar que eu tenho cara de palhaço pra agüentar alguém rindo assim de mim sem conseqüências sangrentas.

Aquela porcaria de sorriso suja as ruas da zona norte de Curitiba. Nada é igual pra cima do Centro Cívico depois de uma experiência péssima como esta. Assistir àquele sorriso é como ter a alma esfaqueada sem saber o motivo. Ou coisa pior.

Enfim, era só para registro nos altos. Odeio a gratuidade da coisa, está claro. Aquele sorriso joga na minha cara que eu devia me divertir com coisas pequenas. Há! Quem é o canalha pra se meter com o que devo eu ou não fazer? Ninguém! Ninguém!

Mas isso também é questão de ponto de vista.

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2 Comments

  1. Vai chegar o dia em que irá sorrir para os vermes, vai sustentar essa alegria gratuita para a face daquela que nunca acha graça. Nesse dia até nós subiremos o centro cívico sorridentes, e quem irá nos compreender?

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Distante das Linhas de Nazca 0 1269

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1202

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski