Diálogo 1978 1 782

Postado por Marco Antonio, o reminiscente.

1978 por dois motivos. Primeiro porque era o ano corrente. Segundo, para ilustrar o quanto 01 e 02 tentaram conversar, na época. Nada sei sobre o presente de ambos. Depois destes anos, perdemos contato. Mas o que importa é que em 1978 era assim. O Sex Pistols acabou, o descanso eterno de Charlie Chaplin foi interrompido por violadores de tumba, e 01 e 02 passaram por mais uma de suas crises. A penúltima que presenciei. 33 anos depois do começo dos conflitos, tudo deve estar diferente. É que o tempo passa. Mais rápido para alguns, mais lento para outros. Relativo. Quem vive intensamente não conta o tempo em termos de horas. Não fazem isso nem os que vivem com imensa alegria, nem os que sofrem demais. Nem se preocupam.

01 diz, fingindo ter uma força que não tem:

– É que não tem como te completar, sabe? Eu não quero isso pra mim.

– Eu nunca pedi pra você me completar. Eu só pedi pra você ficar por perto enquanto eu tento.

Meia hora e outros pensamentos soltos depois, 01 continua, feliz como só.

– E como você veio rápido! Era tanta assim a vontade de me ver?

– Era sim. Você sabe que pra eu vir correndo é só me chamar. E eu sabia o horário do ônibus, também. Isso ajudou bastante. Deu o quê? 12 minutos no relógio?

– Por aí.

– Contei de cabeça. Cada segundo.

– Mentira. Mas é assim que as coisas são nesses dias, né?

– Cheias de mentiras?

– E de vontade de me ver.

– Acho que é. Deve ser alguma coisa que a Sanepar coloca na água, né?

– Só pode.

– Viu…Você ainda quer a melhor coisa de mim? Tipo…o meu melhor? O melhor que eu tenho da minha melhor parte?

– Provavelmente não…Não sei… Pode ser.

– Então pega o meu coração e não devolve.

– Ah. De novo não. Sério.

– Tá bem.

– Tá bem mesmo.

Nos vimos posteriormente no funeral de um amigo em comum, no casamento de outros amigos, e no Natal. Não lembro qual era o cardápio ou o champanhe que serviam, mas isto é de menor importância. Depois, somente em 1979.

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Distante das Linhas de Nazca 0 1277

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1213

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski