postado por Rafaé
Mais um dia de sol, mais um dia de frio. Comum nessa época do ano. Uma vez mais fui trabalhar, uma vez mais o ônibus vazio. Comum nesse período do dia. Uma monotonia previsível, também comum.
O ônibus sinaliza, para, sobe uma loira – bela. Não daquelas que andam em câmera lenta, com os ventos insistindo em passear entre seus cabelos. Uma bela-loira-comum. Daquelas que você olha uma vez, analisa e basta. Nem uma volta de 360º é necessária. Entrou calma, e sentou à minha frente.
Outra sinalização, outra parada, outra nova-passageira. Desta vez, uma japonesa. Talvez uma japonesa da China, ou da Coreia. Entra calmamente, exceto pelas sombrancelhas-levemente-trêmulas ou mal feitas (acho que não entendo muito disso). Aparentemente perturbada, sentou-se do outro lado do ônibus, na frente.
Eis que a japonesa – talvez da China ou da Coreia – começa a encarar a loira. Sim, olhando para trás, nos olhos, daqueles olhares capazes de fazer escorrer os mais tímidos pela cadeira. Não era um olhar convidativo, ou de admiração. Apenas um olhar, perturbado. Não sei o que a loira sentia, mas eu mesmo fiquei inseguro-quase-escorrendo.
Aquele olhar que vinha na diagonal, fuzilava a jovem sentada à minha frente. Não via mais a loira, apenas me sentia atingido por aquele olhar, talvez de admiração, talvez reprovação. O fato é que ele me fazia escorrer pelo banco.
A princípio achei que estivesse assim por sentir alguma compaixão pelo desconforto que a loira deveria estar sentindo. Mas agora tenho a dúvida. Há tempos não me sinto admirado desta maneira, a ponto de calcular o movimento dos olhos, tentando planejar a melhor forma de cruzar olhares. Nem que seja aquele cruzar de olhos pelo espelho do banheiro, com a mulher de um amigo (é, acontece). Enfim, essa japonesa – da China ou da Coreia – me intrigou (mais do que a loira).
Eita, passei do ponto! Três quadras a mais…
Seu otaku safado!
Como é belo o desavergonhamento alheio! 😉