postado por Rafaé
O domínio de simbologias nunca foi o forte de Ronaldo, mas ainda assim vivia atribuindo valores e sentidos para objetos e pessoas aleatórias. Não que ele procurasse isso, mas às vezes a realidade objetivada não compreendia momentos simples de seu cotidiano.
Tamarindos, maçãs e carambolas representavam diversos momentos de sua vida. Não havia uma fase sequer que não possuísse seu símbolo. Chegou, certa vez, a criar um pônei dentro de sua vida amorosa – ainda pequena. Deu certo por um tempo.
Vinhos abertos na rua, com pé de cama, pilhas recarregáveis ou um simples batom. Tudo isso dava um motivo a mais para justificar os momentos ébrios mais sinceros de sua vida. Até mesmo os vinhos escondidos dentro da mochila, quando iam jantar na Maçã verde. Estes apreciados com taças emprestadas.
Experiências gastronômicas mal sucedidas nunca o decepcionaram, pois até os indigestos chinchulines renderam belas fotos e recordações prazerosas. Não, a fome ele não matou. Mas enfim, ninguém vive só de alimentação hoje em dia, não é?
Entre pôneis e peixes no açude, Ronaldo constituia sua família imaginária – ainda pequena. Deliciava-se em ver os peixes comendo ração à flor da água, acompanhado daquela tranquilidade – ainda pequena. Sim, também tinha os mosquitos. Mas isso não simbolizava nada.
Um dia tentou plantar um pinheiro, uma Araucária na verdade – ainda pequena –, que não vingou. Mas aquele lugar ainda existe dentro de seus sentimentos, talvez sem significado relevante.
Olhando sua bicicleta, Ronaldo chora-sorrindo. Sorrindo por lembrar das vezes em que ela o levou à felicidade do prazer. Chora por não poder cumprir a promessa que fez a ela, a bike – ainda pequena –, de levá-la passear na serra.
Mas, por uma ironia oculta do simbolismo Ronaldiano, o símbolo mais triste de seu acervo é uma fruta. Quem diria? Uma simples ameixa preta por fora e vermelho-amarelada por dentro, o causa náuseas de decepção. A fruta que antes era o carinho pela vida (ainda pequena) perdeu seu sentido antes mesmo da digestão. Tendo um fim previsto: a merda. Já não mais pequena.