postado por Rafaé
…vamos sentar nas nossas melhores poltronas e curtir o espetáculo. O espetáculo da dissolução. Mas ainda assim, não uma dissolução destruidora. A diluição aqui também não é de reconstituição. É o cair em si mesmo, na terra comum onde as palavras e as carícias e as bocas se envolvem como a circunferência envolve o círculo.
O voltar-a-ser é algo tão desconhecido quanto o vir-a-ser. O vir-a-ser é mais passivo, segue o fluxo, da maneira mais cômoda possível. Já o voltar-a-ser enfrenta todas as coisas que lhe trouxeram até aqui, ladeira a baixo.
É. Talvez essa perspectiva seja humana demais para todo esse universo minúsculo que insiste em nos seduzir com sua nebulosa espiral, prometendo nos levar além.
Para essas maravilhosas vidas de areia, o vir-a-ser é altamente instigante. Permitir-se com a brisa, e cair ali. lá. pra lá. além. Talvez dentro de um aquário, talvez dentro de um olho, fazendo lágrimas escorrerem. Talvez num canto, onde nunca mais ventará. Onde não voltará ou virá a ser algo.
Essas metáforas tranquilizadoras, essa velha tristeza satisfeita de voltar a ser o de sempre, de continuar, de se manter flutuando contra o vento e a maré, contra o chamado e a queda.
Quanto a nós, sentados aqui, sem saber se nos entregamos à brisa que acaricia nossas vidas, transformamos o nosso canto (mundo) em uma esterilidade metafísica.
Eita, porra!