O Sol É Para Todos, A Sombra Para Poucos – Capítulo I 0 683

Retirado do mais recente livro de Leonardo Iorio Cattaneo

Capítulo I – Um Prelúdio Aos Eremitas


Quantos precisam prestar contas a Ζεὺς (Zeus), sem nunca subir ao Ὄλυμπος (Olímpo)? Quantos envelhecem a pele na rotina do sol a sol, apenas para devolver ao deus rei aquilo que nem desfrutou? Comprometem a saúde com uma alimentação incompleta e indigna para que, pelo menos, a oferenda não seja vexaminosa? Abandonam seus amores e seu lar e, por assim dizer, SUA VIDA, para enfrentar filas em meio ao purgatório, rezando para que Άδης (Hades) poupe sua alma em meio a confusão de seu mundo? Passam sua existência num labor, que suga seus fluidos e por isto não recebem nem ao menos um obrigado? Desistem de mudar a si mesmo e o seu κόσμος (cosmos), pois desistir é seu ofício de excelência?

Não sofreis mais! É chegada a hora dos viventes.
Pobres desolados: este livro será a voz simpática (do grego: σὺν -dentro- + πάθος -experiência- + ἰκα -substantivação da palavra- = estar dentro da experiência de outro; ter dó; ter dó do outro.) a vós!
Alquimistas que desejam o ouro, mas só alcançam o barro: este livro será o instrumento/ciência (instrumento/ciência tais que, nem mesmo a presente química imaginou ser possível se apossar) que os levará para dentro do ser das coisas enquanto-ser-aí, moldando-as como bem entenderes.
Falsos profetas: este livro veio para desmascará-los.
Incrédulos: este livro veio para lhes dar o testemunho/martírio (do grego: μαρτυρέω = testemunhar; a significação da palavra, nos dias de hoje é ambígua, pois com a tradição cristã-medieval, aqueles que testemunharam, tiveram que pagar com a vida e assim, viraram mártires -na acepção moderna da palavra-; faço uso da palavra, me valendo da sua própria ambiguidade, pois a revelação que este livro suporta, fará de todos, sejam crentes ou não crentes, mártires) acerca da γένεσις (gênese) no princípio, trazendo-lhes, para o além da convicção; trazendo-lhes para a verdade.
À TODOS: este livro não lhes tirará do sol para trazer à sombra, pois, sem mais, este livro “É A SOMBRA”.

Atenha-se à este livro, ou sofra os golpes do sol.

Leonardo Iorio Cattaneo.

E aqui a dedicatória que o autor escreveu na minha cópia pessoal.

Para Marco Antonio R. F. dos Santos:
“…cada um tem a sua e você é a minha (sombra).”

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Distante das Linhas de Nazca 0 1277

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1213

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski