Para o dia das crianças 3 737

postado por Rafaé

Enfim a maturidade. Mas, ainda assim, uma maturidade não-tão-madura. É muito mais física do que emocional. No fundo, sempre carregamos as vontades e os sonhos infantis. Ainda acreditamos que o mocinho sempre se dá bem no final, dando um soco e quebrando o nariz do vilão, que insistirá em jurar vingança. Mas sabemos que o vilão no fundo é fraco. (É no que insistimos em acreditar).

Enfim. Sonhos infantis são leves de se carregar. Por isso nos permitimos com eles.  O perigo é quando os usamos como máscara para nossos erros mais grosseiros. Como é o violento erro de tentar reconstituir o passado em nosso presente, destruindo a calmaria que nos levaria a outro lugar.

Melhor? Pior?

Outro.

Mas independente de nossas falhas, sonhos e vontades, não podemos consertar as coisas já feitas. Podemos nos lamentar, pedir desculpas, dizer que blábláblá. Mas no fundo sabemos que “a explicação é um erro bem vestido”.

Por isso, meus jovens, dou-lhes todos os créditos para a vida. Gastem onde quiserem. Seja na montanha russa, túnel do terror ou algodão doce.

Feliz dia das crianças, pequenos.

Previous ArticleNext Article

3 Comments

  1. Nada mais ingênuo e confortável para nós do que carregar pra sempre as aspirações infantis: de que podemos ser quem quisermos (astronauta. Pq sempre diabos um astronauta?) um dia, basta se esforçar; de que o bem sempre vai vencer e que um dia poderemos congelar pessoas, como o Sub-zero.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Distante das Linhas de Nazca 0 1276

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1212

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski