Compartimentos de sentimentos – da organização de nossa felicidade 3 747

postado por Rafaé

Desorientação. Destino incerto. Vontades incertas. Rumo. Vago objetivo de chegar. Chegou quando quis. Onde se convenceu de que era um bom porto. Por lá Jonas ficou, esperando a mensagem que chegaria no celular, vinda de um porto personificado. Esperou com a mesma ansiedade com que abre seu e-mail diariamente, aguardando por um inventário de sentimentos que o arranque da linearidade do sentimento-tempo.

A felicidade latente o acompanhava, esperando uma ocasião que justificasse sua utilização. Será mesmo que podemos usar a felicidade? O amor que sentimos é o mesmo? Pra todos? Só muda a pessoacoisa com a qual utilizamos esses sentimentos? Sei não…

Sentado ali, no destino eleito, Jonas observava as pessoas que passavam. Umas sorrindo, realmente convencidas de estarem felizes. Outras nem tanto. Aqueles sorrisos. Conteriam eles todos um mesmo sentimento? Mais uma das coisas que eu não sei…

Porra, Jonas. Você aí, perambulando pelas ruas, com esses sentimentos latentes e não é capaz de eleger um serobjeto que justifique utilizá-los?

É. Nada como teorizar, definir e embalar todas as variantes que rodeiam Jonas. Esse ser incerto, vagante, com sentimentos guardados em compartimentos quadrados, como em um guarda-roupa de outros tempos.

Mais um dia vai perdendo seu sol, por trás dos prédios. O vento começa a resfriar a pele queimada pela tarde. Vvvv… Vvvv… mensagem no bolso. No visor, em outras palavras, a ordem. E Jonas, sempre organizado, revirou o quadrado da felicidade, levantou e foi utilizá-la.

Previous ArticleNext Article

3 Comments

  1. Eu não sei nem o porque de vocês usarem mais de uma palavra pra descrever o sentimento do Jonas, esse de felicidade latente. Eu, que sou mais sintético pra essas coisas de alegria aparentemente gratuita, faço o trabalho do diabo, então:

    E U D E S.

    Sem mais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Distante das Linhas de Nazca 0 1277

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1213

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski