postado por Rafaé
Enfim um sorriso. Pela primeira vez sentiu cumplicidade. Desde aquele dia, no quarto, na cama, de barrigas pra cima, quando ficaram à margem do fluxo do tempo – a tarde passou, eles não.
Ronaldo teve a tarde de hoje linear. Daquelas em que nada alteram nossas vidas. Ele sentiu justamente isso, quando entrou no bar do Tanaka pra tomar a primeira cerveja do dia, sozinho. Tomou duas, enquanto observada um casal decadente na mesa ao lado; e ouvia o papo de um grupo de senhores, que comentava uma a uma as mulheres que passavam na frente do bar. Ronaldo concordou com apenas uma avaliação. Era realmente uma teteia…
Saiu dali um pouco menos deprimido com a falta de variações em seu sentimentotempo. Atravessou a rua e entrou no bar onde encontraria seus amigos. Sim. Encontrou. Mas o vazio continuou consigo. Falou, contou, fez rir. Até riu, mas o vazio era o mesmo que o acompanha há meses. Seus vinte e muitos anos o ensinaram que variações de sentimentos são necessárias. Ao menos desejáveis.
Bebeu mais. Muito mais. Até que se entregou ao silêncio dos que exageram. Ali ficou, só ouvindo e percebendo o quanto não fazia diferença naquela mesa. Até que ela, Mariana, perguntou se estava bem, pois o vômito ao lado da mesa era seu. Não soube se era. Apenas foi ao banheiro, lavou o rosto e voltou à mesa, decidido a finalmente falar. Se entregar e provocar as mudanças que precisava em seus sentimentos.
Voltou. Sentou. Olhos nos claros olhos de Mariana e soltou, como o vômito ao lado da mesa. Sem esforço ou resistência. Ninguém ouviu, além de Mariana. Os dois sorriram, enfim. O tempo passou…
Mano, esse mundo de sentimentos é realmente um mundão. Bem grande.