Postado por Marco Antonio, um dos homens do spotlight, repito.
Perambula.
Braços meio caídos, coluna retorcida para a frente, roupas sujas, rasgadas, algumas manchas de sangue. Não sabe o que é banho há mais de uma semana. O queixo perto do peito, parece um lutador, um mendigo ou algo que o valha. Uma mistura. Soca a placa de trânsito, chuta o orelhão com a sola do pé descalço, chuta a lixeira do prédio, procura comida entre os restos. Não encontra nada. Continua.
Rua vazia. Três da manhã de terça para quarta feira. Percebe o cheiro de tinta fresca da casa da esquina. Fica cheirando o ar. Parece o Wolverine. Parece irritado. Não tenho como descobrir daqui. Pega a maior pedra que encontra no chão e joga na vidraça do seu Paulo. Porra, e o seu Paulo reformou a casa inteira esses dias. Fez tudo lá. Parece que só não entrou na casa por causa da grade que separa a sala de tv da rua. Um taco de baseball na mão. Estranho.
Sete minutos e meio depois, um carro de polícia passa devagar. Abaixa ainda mais a cabeça, encara o chão. Perde o interesse nos policiais na mesma medida em que estes ganham nele. “Qual é o tipo de vagabundo que fica passeando desse jeito com essa cara feia uma hora dessa da madrugada? Mendigo bêbado é foda. Esse tipo de filho da puta não tem nada na vida, mas todo dia arranja dinheiro pra encher a cara”. “Mas isso aí já é doença, meu. Eu só não entendi esse taco de baseball. Você já jogou baseball? Ninguém joga essa porra aí”. “Isso aí não é pra jogar baseball…isso aí é pra bater em alguém. Dá a volta na quadra aí, meio rapido. Mas tênis eu já joguei…”.
Mais vazia que a barriga só a alma. As lâmpadas dos postes de luz não são uma boa companhia. São a única. Não faz diferença. Murmura consigo próprio. Rosna para um cachorro que começou a latir. A polícia dá a volta na quadra. Bate na grade com o taco.