A Ingênua Maturidade 0 539

Um provérbio de Letícia França, a mulher que detém o conhecimento.

E antes que eu me esqueça, a velha insanidade não morreu. Ela continua nas estradas e nas madrugadas bêbedas de alguns jovens. Flutua pelas marolas enquanto a música ainda toca e faz o companheiro adormecer, enquanto alguém se ama na beira do mar.

É nessas horas que a saudade da ingênua maturidade aparece. Saudades dos momentos de risadas eternas e seduções baratas misturados com discussões sobre política e religião.  E em meio a tantos goles um pouco de luta e sonhos vão se desvendando. Há saudades das garras de meninas mulheres que não se cansam de apanhar da vida e ainda encontram tempo para gozá-la ou gozar, como queira.

Quando as conversas ainda são sobre os outros e o medo da solidão se parece ao daquelas garotas que esperavam na janela o soldado para fisgá-lo e casar – deve ser bom se realizar numa cozinha – eu continuo pensando na ingênua maturidade que invade pensamentos insanos em plena segunda-feira e faz com que criaturas trabalhem nos feriados ou sambem aos domingos.

E antes que eu me irrite e mande todos aos seus devidos lugares, a vontade absurda de andar pela rua durante a semana para caçar dotes me enjoa. E o passado é lembrado como se fosse o presente. Sim, é nessas horas que nada faz sentido, pois o que sobrou de alguns capítulos foi a velha insanidade. Nada mais.

Previous ArticleNext Article

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Distante das Linhas de Nazca 0 1269

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1198

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski