Muito Bem Resolvida 14 964

Postado pela INCRÍVEL Letícia França. A ronin da elegância. A amazona do bom gosto.

Muito bem decidida e bem resolvida. Quem é que vai duvidar do que uma mulher com voz firme e olhos fixos diz?

Sim. É quase uma visionária do seu tempo. Consegue colocar em linhas frases bem construídas e que não deixam dúvidas de que uma mulher deve ser intensa, assim como a vida que ela deve viver.

E todos acreditam que mulheres como ela – corpo violão, pele morena, lábios carnudos e os quadris mais desejados da cidade – são fortes, enérgicas, inteligentes, donas de si e, principalmente, dos seus sentimentos. Uma ótima fantasia sexual, eu diria. E depois de consumir homens mais velhos e atordoar casados, a fantasia fica ainda mais excitante.

Para completar, ainda tem uma dose de religião, bondade e humildade. Ninguém diz o contrário do que ela apresentou.

É como num livro de auto-ajuda. Procuram acreditar fielmente que ela não fracassa, assim se sentem mais confortados. Fica a doce ilusão de que um dia chegarão lá.

Mas que grande equívoco. Só o que ela faz é não se comparar a nenhum de vocês. E isso não faz dela menos mortal enquanto o coração dela sangra. E ao contar que está sangrando ninguém acredita. Acostumada a escutar, sobra pouco tempo para verem que o coração dela sangra.

Mesmo assim ela não se compara a ninguém e ainda consegue se divertir na cama durante as noites. Ela faz parar de sangrar. Até quando amanhece o dia e a cama vazia mostra que restou a solidão. Ela faz sangrar. Ela faz parar. Ela tem medo da solidão. Com as olheiras mais negras como de costume – por conta da maquiagem da noite anterior- ela vê que ainda sangra. Ela não superou. Ela é uma mentira bem mascarada- construída.

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14 Comments

  1. Excelente texto, de muito boa qualidade, magnífico, pura elegância, realmente só podia vir de uma pessoa I N C R Í V E L!

  2. Agora sim, gente! Um ambiente – finalmente – familiar aqui. Vamos mudar o blog pra: Familiaridade Digital. Bem vinda, dona mãe.

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Distante das Linhas de Nazca 0 1277

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1213

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski