postado por Rafaé, o barão do amor.
Vendo vocês dois aí ao lado da fogueira, entre carinhos e sorrisos cúmplices, o que sinto chega a beirar um remorso. Mas logo compreendo que não devemos submeter nossas vontades às imposições morais.
Já me perguntei se a adoção deste discurso libertário é algo confortante, apenas para justificar minha nova forma de amar. Talvez esta ideia seja apenas uma resposta imediata à minha consciência. Quando ela teima em questionar minhas atitudes, tende a falar besteiras.
Já não sei, meu chão é outro.
Alegra-me a tua felicidade, agora iluminada inconstantemente pelas chamas que os aquece. Não que eu me importe com o que estás sentindo, mas tua inocente alegria me remete a outros tempos. À época do inquestionável controle dos meus prazeres e suas fontes. De quando eu virava as costas, sem me preocupar com possíveis e lastimáveis perdas – não existiam.
Olho e me vejo há uns três ou quatro anos. Quando vivia assim, sem desconfiar de que todos vivem uma outra realidade na minha ausência. Mas hoje, veja só, na tua ausência, sou eu quem ocupa este lugar em que estás. Sou eu quem segura a mão que te afaga. Quem beija a boca que te engana. Quem goza o corpo que te convence amada.
É claro que não sabes o quanto és feliz. Provavelmente nem sejas. Talvez eu também não tenha sido.
Temos o costume de fantasiar o passado, emoldurando nossas lembranças, como se tivéssemos vivido o melhor de nossa época. Por isso não me importo em melhorar o meu presente, pois sei que daqui alguns anos lembrarei com carinho dos dias de hoje.
Não vejo a necessidade de te abrir os olhos. Talvez seja necessária essa felicidade ingênua. Essa ilusão de que realmente somos privilegiadas, que este amor é mesmo o nosso todo. Provavelmente nunca saberás que este teu amor também é meu.
Caso descubras, espero que encontre estas palavras. Não para me justificar, ou diminuir a tua desilusão. Apenas para que saibas que temos mais cumplicidade, além do corpo que dividimos.
Eu sigo assim, ansiosa pelo meu prazer e, de certa forma, admirando nostálgica a tua ingênua felicidade.
E você, que agora segura as mãos que me darão o prazer desta noite, não te esqueças de que apenas nos decepcionamos com as promessas que aceitamos.