postado por Rafaé, você amanhã.
Beatriz nunca chegou a acordar de sonhos intranquilos. Muito menos sentiu alguma mudança ao se encontrar com Gregor Samsa. Mas a verdade é que, ao contrário dele, ela jamais se percebeu como um inseto. Talvez ninguém a tenha visto assim, levando em consideração o fato de que poucos se importavam com ela. Falo em poucos para não cometer uma injustiça, mas acho que nenhuma pessoa se importaria com as intimidades dela.
O fato é que Beatriz sempre foi um inseto quando o assunto era amor. Onde enxergava a possibilidade de um, lá ia ela. Atraída de maneira tão lúcida como uma mariposa por uma lâmpada acesa qualquer. E lá ficava zanzando, batendo e descendo numa espiral na tentativa de evitar a queda livre. Recuperava suas forças e voltava ao seu amor.
Os amores de Beatriz são sempre os mesmos, independente de lâmpada ou poste. Sua relação é sempre igual, pois o calor que busca nestes amores, no fundo, é para suprir sua pouca destreza para lidar com o silêncio que a solidão a diz.
Com o tempo os problemas surgem. Sempre na lâmpada. Muito amarela, quente ou fria. Seus problemas estão sempre lá, projetados na luz a ser criticada.
Fato conhecido por todos e, graças à energia elétrica, temos lâmpadas acesas por todos os cantos nos dias de hoje. E logo Beatriz atravessa a rua para zanzar em volta do seu novo grande amor. Com o tempo ela percebe que esta nova lâmpada é amarela, e os sonhos intranquilos ganharão espaço sem que ela acorde.
Bengalas luminosas sempre existirão para Beatriz, que descerá em espiral enquanto puder evitar a solidão.