postado por Rafaé, o Conde do amor; Visconde da libido.
Foi em 10 de agosto do ano passado que Cosme Augusto, eu, diagnosticou-se com a síndrome do homem moderno. De tanto não se dedicar à sua esposa, ela o deixou. Foi-se embora com um desocupado. Questões menores e pessoais agora eram cantos de sua vida que o próprio visitava pouco. E ai de quem tentasse chegar até lá.
De lá pra cá, deu pra questionar a validade de uma contagem do tempo. Quando se pensa na eternidade, parece tanto. Mas quando se trata do hoje, do agora, cadê ele? Já passou. Se na agenda do dia tiver quatro compromissos, o tempo dará pra cumprir três. Se dezoito, dezessete ou quinze. Se uma, apenas ela, faltará pouco. É sempre um pouco a menos do que precisa.
A vida pessoal então, às favas. Desde aquele 10 de agosto Cosme Augusto prioriza sua carreira, como chefe de almoxarifado, que só não decolou ainda por falta de tempo para pensar em estratégias diferenciadas para revirar o mundo corporativo.
Sei que ela tem razão quando diz que ele já não se dedicava ao amor que – se é que – existiu entre nós. Mas quem tem tempo pra isso hoje em dia? Falar de amor. Viver de amor. Isso é muito fácil de idealizar. Mas tente por em prática! O tempo acabou. Suas contas venceram. Seu emprego foi-se embora junto com o ônibus que você acabou de perder.
Já me disseram que esta síndrome de Cosme Augusto seria uma simples falta de organização. Mas cá entre nós. Existe alguém realmente responsável, com agenda pra cumprir e estoque pra controlar, com tempo de se organizar?
Gastar tempo com organização, pra mim, é algo a ser realizado no mais puro ócio. Cosme Augusto sempre relacionei ócio à vagabundagem. Coisa de grego que usava a filosofia como desculpa para o fato de não trabalhar. Não é à toa que a Grécia tá quebrada agora. Cadê teu Sócrates pra te tirar dessa agora, gregos?
quem é que precisa de um tempo para se organizar? Isso realmente é para os fracos, Conde!
Conde D(‘)eu
é. conde d’você, beibe.
ê, paixão!
“Cadê teu Sócrates pra te tirar dessa agora, gregos?”. ANTUNES, Rafael – 2011.
Abandonamos e somos abandonados. Mas eu não acredito nisso, não posso mais.