O tempo acabou Cosme mudei 6 605

postado por Rafaé, o Conde do amor; Visconde da libido.

Foi em 10 de agosto do ano passado que Cosme Augusto, eu, diagnosticou-se com a síndrome do homem moderno. De tanto não se dedicar à sua esposa, ela o deixou. Foi-se embora com um desocupado. Questões menores e pessoais agora eram cantos de sua vida que o próprio visitava pouco. E ai de quem tentasse chegar até lá.

De lá pra cá, deu pra questionar a validade de uma contagem do tempo. Quando se pensa na eternidade, parece tanto. Mas quando se trata do hoje, do agora, cadê ele? Já passou. Se na agenda do dia tiver quatro compromissos, o tempo dará pra cumprir três. Se dezoito, dezessete ou quinze. Se uma, apenas ela, faltará pouco. É sempre um pouco a menos do que precisa.

A vida pessoal então, às favas. Desde aquele 10 de agosto Cosme Augusto prioriza sua carreira, como chefe de almoxarifado, que só não decolou ainda por falta de tempo para pensar em estratégias diferenciadas para revirar o mundo corporativo.

Sei que ela tem razão quando diz que ele já não se dedicava ao amor que – se é que – existiu entre nós. Mas quem tem tempo pra isso hoje em dia? Falar de amor. Viver de amor. Isso é muito fácil de idealizar. Mas tente por em prática! O tempo acabou. Suas contas venceram. Seu emprego foi-se embora junto com o ônibus que você acabou de perder.

Já me disseram que esta síndrome de Cosme Augusto seria uma simples falta de organização. Mas cá entre nós. Existe alguém realmente responsável, com agenda pra cumprir e estoque pra controlar, com tempo de se organizar?

Gastar tempo com organização, pra mim, é algo a ser realizado no mais puro ócio. Cosme Augusto sempre relacionei ócio à vagabundagem. Coisa de grego que usava a filosofia como desculpa para o fato de não trabalhar. Não é à toa que a Grécia tá quebrada agora. Cadê teu Sócrates pra te tirar dessa agora, gregos?

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Distante das Linhas de Nazca 0 1277

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1212

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski