postado pela Helen admirável Anacleto, ofuscando o Miss Universo 2011.
Só sentia necessidade de escrever. Tanto porque não o fazia há muito tempo, quanto porque escrevendo, se encontrava, se descobria. Ou não. Escrever era como fugir, projetar, desejar que tudo o que vive ou gostaria de ter vivido não acabasse nunca. Afinal, o fino ofício de dar forma às sensações traz de volta toda a boa e velha nostalgia do que nunca se viveu. Escrever, sentenciava, era como cravar na história o que já se tinha agarrado à alma.
Ouve a mesma música há pelo menos quatro horas. É ela que embala as lembranças do dia, daqueles completos, que teve. Viu e sentiu, juntas, as pessoas mais importantes da sua vida tão próximas de si que mal conseguiu acreditar. Não sabe bem como tudo termina, e já se não importa mais, porque tudo o que precisa está aqui, ali e lá. Sempre esteve. Tudo o que tem de mais seguro sempre existiu e nunca vai deixar de ser. Sente o corpo à deriva e isso já não incomoda: tem se encontrado em cada minuto vivido sob a sua única presença.
Só que, num segundo, já não quer mais se encontrar. Acha que agora é a hora certa pra se perder de toda e qualquer coisa que lhe pareça certa demais. No fim da noite pouca coisa importa, afinal. Se soubesse onde tudo vai dar, faria com que tudo continuasse instável, porque é disso que precisa. Ácido para o coração derreter, se partir em dois, talvez deixar de existir, pra passar a ser um liquefeito obscuro que pertence a qualquer pessoa que conhece e vai conhecer. Pra dividir com o máximo possível de mundo tudo o que tem de melhor dentro e fora de si.
Fecha os olhos e sente saudades, de tudo o que já foi dito e do que não queria ter ouvido. É como se não tivesse vivido nada de nada, nunca. Sorri. Por que diabos está sentindo essas coisas que mal fazem sentido pra si? E essa vontade doida de vomitar palavras até o sabiá cortar a madrugada com o seu canto mais bonito? A música ainda toca. Ainda mais harmônica e profundamente invasiva. Sente ter muito pouco a dizer. Seria o sentido tão importante pra quem sabe que a vida não tem sentido nenhum, exceto aquele que a gente quer que ela tenha? Agora, não deixa mais a música terminar. Antes do acorde derradeiro, a recomeça ainda e uma vez mais e observa a sensação de angústia diminuir – algum dia existiu? Agora, decide, não vai deixar a música terminar nunca mais.
uma bela estreia; pequenos prazeres cotidianos.
Meu orgulho!!!