Nunca voltamos como saímos; Não seremos como fomos 0 611

postado por Rafaé, o marujo da vida.

O bom de viajar é deixar seus referenciais cotidianos pra trás. Alguns caem, outros incomodam. Existem também aqueles que se fortalecem, ganhando uns tempos a mais em nossa vida.

Na distância, algumas pessoas ganham mais espaço em nossos sentimentos. Lembranças inusitadas, vontades de compartilhar o pequeno porre, a grande felicidade, ou uma bizarrice qualquer. Cada um surge a partir de um fato. Existem também os que simplesmente não existiram. Para estes, o reconhecimento por terem nos proporcionado algo bom, num passado que inevitavelmente é embalado e guardado em lugar abrigado de luz, calor e umidade.

Sim, eu pensei em você. Pra você eu liguei. Pra você eu escrevi e-mail. Pra você mandei mensagem. Com você eu falei no facebook. Você não veio à minha mente. Foi bom. Não senti e nem neguei sentir. Melhor assim. Você me veio à cabeça todos os dias, mas não achei nada que pudesse simbolizar isso e lhe trazer (acho que nem o quis).

E é muito bom ter de quem lembrar ao sentirmos os prazeres distantes. Me senti assim, sentindo. Sentindo por sentir. Querendo sempre mais. O novo e o de sempre. Mas até os de sempre são ressignificados. Tornam-se outros. Se encaminham.

Novas pessoas nos apresentam novos universos. E é muito bom te amar por uma noite, por uma semana, por um porre. Desses amores que, como o álcool, te dão o auge durante a noite, a ressaca pela manhã e o alívio durante a tarde, quando tudo o que resta em nosso corpo são lembranças, nada de resquícios.

Interagindo com o seu, vários universos se transformam. Alguns precisam de dias para que assimilemos. E isso nos transforma. No regresso, nosso porto já não será o ideal. Necessita de reparos para abarcar nossas novas demandas e ambições. Uma espécie de bloodbuzz, maior ou menor de acordo com as intensidades que vivemos sinceramente. Mas ainda me sinto parte daqui. Parte de partes.

E em meio a tudo isso, uma pergunta: e se eu pudesse atracar em qualquer porto do mundo, pra onde eu iria?

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Distante das Linhas de Nazca 0 1274

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1212

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski