postado por Rafaé, o arqueólogo da contemporaneidade.
Cansei dessa vida entediante de tanta felicidade. Sorrisos desnecessariamente disparados para todos os cantos, chega. Todo dia uma propaganda nova, ou um esforço pra se parecer interessante dentro das expectativas de outros.
Há dias venho tentando descobrir o que eu faria, não fosse a esperança alheia. Nem mesmo o espelho tem testemunhado minhas vaidades.
Mas é pouco. Sempre procurei fazer mais do que falei, pra dar a oportunidade de me valorizarem no futuro. Mas até este “procurar” foi mais falado do que executado. Aqui estou mais uma vez, falando do que farei(ia).
É que hoje eu tive uma ideia, uma inspiração. Vou finalmente escrever meu próximo – e primeiro – livro. Nada grandioso. Apenas algo diferente do que tem sido produzido na literatura desde que Esopo a fundou, em 2.547 a.C. (antes de Coelho, o Paulo).
Vou começar com uma frase impactante: “Mais difícil do que descobrir quem se é, é admitir e conviver com isso”. Pronto! Desconfio da existência de alguém que consiga abandoná-lo a partir daí.
Esta frase provavelmente será dita pelo protagonista (Cosme ou Damião) diante do espelho, talvez no banheiro. A partir daí, uma sequência de dias tediosos, onde ele desistirá da vida com sua mulher (Ana ou Anna), uma mulher apática que faria mal feijão e sexo.
Tudo isso eu farei(ia), não fosse a imensa felicidade cotidiana que me atravessa.
Lembro-me de Mariana, que uma vez me disse que parou de escrever ao me conhecer, pois já não idealizava a felicidade. Havia a encontrado comigo. Demorei a entender. E só quando entendi, percebi o quanto éramos felizes.
Mas com o tempo ela voltou a escrever seus lindos poemas. Percebi ali que sua felicidade já não era a nossa.
E hoje, a julgar pela qualidade dos textos atuais de Mariana, ela voltou a amar. Desde então, minha vida se tornou essa constante e entediante felicidade.
“Não si deixar não ser”, eis a meta.