Postado por Marco Antonio, o da sequência.
Parte 1 aqui.
Uma das damas de honra está vomitando no banheiro. A verdade é que ela não é uma dama e não tem honra, mas é irmã de uma das esposas conspiradoras, então se a versão mais aceita entre os presentes é a de que ela é uma dama de honra, é isso que ela é. Pelo menos hoje. São comuns estes casos, em que o título fala mais e melhor que quem o detém. Mas, agora, tenho outros assuntos com que me ocupar, como a perspectiva de morrer daqui a pouco.
Céu negro, raivoso. Uísque Black Stone (barato). Ternos pretos, na maioria. Magia? Sobretudo: magia negra? Acabou a luz. O que é uma pena. Talvez eu me afeiçoasse a essas pessoas, a esta altura, ainda que seja mais provável que não. O padre veio para a festa. Espero que ele tenha tempo de salvar-nos a todos antes do fim.
Alguns dos bêbados reclamam entre si sobre a possibilidade de terem que correr até seus carros durante essa “chuva da porra”. Não reclamam em voz alta, no entanto. É mais uma coisa de sussurros e insinuações sobre a falta de estrutura do local escolhido para a festa. Ouço outros bêbados tatearem na escuridão e provavelmente encontrando nada de interessante de ser tocado. No máximo encontram as próprias mesas, cadeiras e pertences. O silêncio grita em alguns dos espaços, e as conspiradoras sumiram da festa há alguns minutos.
Ouço um trecho de conversa:
– …é que eu tô tentando lembrar quem é você, pra poder te dizer ou não alguma coisa sobre nós, mas não consigo. Nem lembrar, nem dizer.
– Talvez eu não seja ninguém, na verdade. Você fica triste com isso?
– Um pouco. Sei lá. É provável.
– É.
Acontece dessas coisas, quando se está no inferno.