De Yuri “Raposão”.
Quando eu tinha três anos meu pai saiu de casa e fiquei morando com minha mãe. Meu pai me buscava uma vez por mês e me levava para Passa Quatro, onde ele passou a morar depois do divórcio. Uma vez, quando eu tinha seis anos, meu pai me levou a uma festa em uma chácara, onde dois de seus amigos estavam despedindo-se para tentar a vida no exterior. Havia uma mulher. Ela era morena, de pele escura e cabelos cacheados. Conversava com meu pai como se fossem velhos amigos. Em dado momento, ela, risonha, cochicou algo no ouvido do meu pai, levantou-se da cadeira e foi caminhando para dentro da casa. Meu pai permaneceu prostrado na cadeira, com olhos distantes e mortos. Depois, também se levantou. Segurou meu braço com força e começou a me puxar, em meio às risadas e o alto falatório da roda de seus amigos. Ele estava visivelmente bêbado. Não precisei sentir seu hálito, ele não abria a boca. Mas da respiração forte de seu nariz exalava um odor forte de cachaça, e isso me impediu de protestar ou lutar contra a força da sua mão que me arrastava para dentro da casa.
Entramos em um quarto escuro. Aos poucos meus olhos foram habituando-se à penumbra e comecei a identificar os elementos que
compunham o quarto: um armário duplo de madeira rústica, um criado-mudo com garrafas sobre o tampo, uma cama de casal e a amiga de meu pai, nua sobre ela. Um odor acre e curtido rasgava-me as narinas e logo percebi que era o cheiro dela, cujo peito balançava preguiçosamente ao ritmo de sua respiração.
Olhei para meu pai assustado, interpelando-o com o olhar uma explicação para aquela situação desconfortável em que eu me encontrava. Meu pai devolveu o olhar ébrio na minha direção e insinuou a cabeça na direção da mulher. Incapaz de dizer nada, estendi-lhe as palmas das mãos sem saber o que fazer. Meu pai disse “anda, mete nela! Mete nela” e gritava a cada nova repetição. Ante sua fúria, comecei a chorar. Ele sacudiu-me pelos ombros e disse pausadamente: “eu não tenho filho boiola! Eu não criei nenhum boiola! Vai lá e mete nela!”, e senti o cheiro forte de álcool e tabaco emanando de sua língua e dentes. Como a mulher não disse palavra alguma e eu não me movi, meu pai jogou-me sobre o corpo amargo da mulher e esfregou-me a cabeça em seu sexo volumoso, quente e úmido. Diante disso, ela gargalhava com uma risada gostosa de ouvir, mas meu pai vociferava nomes dirigidos a mim e à educação que minha mãe me dava. Após alguns minutos ele cessou sua fúria. Soltou minha cabeça e se dirigiu pesadamente ao banheiro da suíte, arrastando cada passo. Começou a chorar alto como uma criança. A mulher levantou-se da cama, envolveu-me em seus braços e dizia: “pronto, pronto” enquanto me fazia cafuné, ainda rindo em silêncio. Um riso que cadenciava sua respiração sem, contudo, emitir som. Sentindo seus dedos passarem entre meus cabelos, comecei a chorar alto como meu pai. Ninguém na festa ouviu o choro. Ninguém nunca ficou sabendo.
Hoje mato por necessidade e por prazer.