escrito por Murilo.
Felipe não imaginaria que sua entrevista de seleção para aquela empresa seria tão difícil. Era um cara confiante e competente, que já passara por duas empresas e sempre fora muito bem. No entanto, daquela vez a situação foi diferente. Ao entrar na sala, apaixonou-se imediatamente pela moça do RH. Isabel – pode chamar de Bel – era absurdamente linda. Foi amor à primeira (entre)vista.
“Oi Felipe, tudo bom?” – cumprimentou com beijinho de bochecha estalado.
Com currículo em mão e caneta na outra, sentou-se do outro lado da mesa e cruzou as pernas. Seria uma situação corriqueira e passaria despercebida não fossem dois fatores. Primeiro, a fina meia-calça que revelava a forma e a cor das maravilhosas pernas de Isabel. Segundo, o tampo de vidro transparente da mesa, que permitia que tudo aquilo fosse visto. Felipe não só fitou o cruzar de pernas, como se esqueceu, por um breve momento, o que estava fazendo ali. Se você já viu uma mulher assim, deve saber como é. Mais ou menos como uma voadora no peito. Com uma incredulidade, digna de um ateu, você ao mesmo tempo agradece a Deus por colocar tanta perfeição em um só lugar. Uma situação contraditória, enfim.
“Muito bem, Felipe. O seu currículo parece muito adequado, mas eu gostaria de saber um pouco mais sobre você e suas experiências.”
Bel perguntou sobre seus empregos anteriores, sobre seu plano de carreira, seus sonhos, seus pontos fortes e fracos, seu salário e, enfim, tudo o que normalmente se pergunta em entrevistas do tipo. Felipe havia aprendido a importância do contato visual, mas naquela ocasião isso realmente o desconcentrava. Afinal, era difícil não se perder nos grandes olhos azuis da moça. Apesar disso, o rapaz foi bem na entrevista. Ao fim, contudo, algo muito o incomodava. Nesse momento, ele tomou coragem, levantou-se e disse a verdade.
“Isabel, tem mais uma coisa que eu gostaria de dizer.”
“Pois diga.”
“Você me perguntou por que eu queria trabalhar aqui, e agora eu digo: é porque você trabalha aqui. Você me perguntou se eu sou casado, e agora eu posso dizer que pretendo ser em breve, pois acabei de encontrar a mulher da minha vida. Um sonho meu? Viajar pelo mundo só se for ao seu lado.”
“Como é?” – pergunta, confusa.
“Eu disse que trabalho bem em equipe, mas posso fazer coisas muito melhores a dois. Eu disse que minha pretensão salarial era de quatro mil, mas vou precisar de pelo menos seis, pois quero comprar para você os melhores presentes e te levar ao mais incríveis lugares.”
Ela estática, sem saber como reagir. Ele continua.
“Eu demorei a responder algumas perguntas porque fiquei vidrado nos seus olhos, não conseguia me concentrar. Bel, essa vaga era tudo que eu queria antes de entrar por essa porta, mas agora tudo que eu quero é você.”
Surpreendida e atordoada, ela apenas segue com o protocolo, como que no modo automático.
“Felipe, conforme conversamos, entraremos em contato para agendar uma entrevista com o psicólogo.”
“Você sabe que eu não vou passar. Eu estou louco, e você saber por quem.” – responde ele, saindo da sala.
Estarrecida, ela volta para a cadeira e senta. Olha para o currículo sobre a mesa. Circula o número do telefone. Sorri.