por Teresa
Não, espera, não vai embora ainda. Eu sei que tá frio. Também preciso de um café. Se eu passar um café, você promete esperar? Tá aqui. Forte demais? Droga, errei na dose, como sempre. Mas bebe que vai te fazer bem. É, também acho que deveríamos ter bebido menos ontem. Também preciso de um banho. Mas fica mais um pouco. O tempo é curto e tenho uma porção de coisas pra te falar. Claro que eu lembro do que aconteceu. Jamais, jamais te pediria algo que você não pudesse dar. Pode colocar a música que você quiser. Ainda tenho créditos, sim, pode mandar tuas mensagens. Mas me escuta, por favor? A vida tem sido uma mentira sem você. Desculpa, errei na dose de novo? É que é horrível te ter aqui tão perto e ter que controlar as palavras. Não consigo fingir na tua presença. E isso pesa tanto! Me mostra menos verdade pra eu poder acreditar de volta nas tantas mentiras! Queria ter te conhecido 10 anos depois. Me perdoa pela imaturidade, por não ter lutado. Uma vez me apaixonei. Faz muito tempo. Aquilo parecia salvação pela profundidade que oferecia. Mas sabe qual era meu terror? Cada vez que eu me aproximava daquele rosto, via o teu. Imediatamente chacoalhava a cabeça pra evitar a comparação. Mas era inevitável. Não consegui me entregar. Aquele ser humano disposto, presente, eu não conseguia decifrar, ir a fundo. Sobre meu desprezo? Não há desprezo. Só tenho medo de te ver morrer diante dos meus olhos. Ainda esses dias lembrei do teu quarto pequeno, de paredes roxas. Quantas horas ali dentro esperando o dia acabar? Quantos discos, quantos filmes, quantos segredos? Você não precisa de perfume. Isso diz muito sobre alguém. Ah, sim, tudo bem. Pode ir. Boa viagem. Quando puder, mande notícias.