por Teresa
Emagreceu. Arrumou um emprego fixo. Até que ganha bem. Tem um carro. Comprou zero. Conheceu várias gurias bonitas, inteligentes, interessantes. Hoje namora uma delas, há 3 anos. Pretendem se casar no ano que vem. Pensam em ter filhos. Nunca a traiu. Guarda dinheiro na poupança para quitar a casa própria. Já tem metade do que precisa. Dorme cedo. Evita multidões. Parou de fumar. Só bebe socialmente. Frequenta bons restaurantes. Não tem dívidas, paga tudo à vista. Preserva uns poucos bons amigos. Aprendeu a se controlar em situações tensas. Aprendeu a calar. Visita a mãe todos os finais de semana. Tem um cachorro com o qual caminha todos os dias. Lê três livros por mês. Um é sempre o mesmo.
O problema é que volta e meia o espaço vazio se torna significante e passa a incomodar de novo. Pensa na praia, no vira-lata e nela. Nos olhos dela, especificamente. De quem conhecia o mundo. De quem sabia das almas. Mas não, esses detalhes não…
Abre uma cerveja, toma um gole e respira fundo. Tenta lembrar que nem tudo o que lhe vem à cabeça é o que de fato aconteceu. Ou? Liga a TV. Dorme.