Por Rômulo
Daqueles momentos que mudam uma vida. Tudo faz sentido de um jeito estranho, tudo se encaixa e se explica automaticamente. Um momento intenso, solitário mas compartilhado.
Falemos, Luisa, sobre portas. Ignorar portas não significa nem que elas estarão fechadas e nem que elas estarão abertas: é uma questão de deixar que elas cumpram a sua função. Portas, diz um poeta, são pra conter ou deixar passar. Quando se quer passar, basta girar a maçaneta ou apenas escancarar (no caso de a porta estar apenas encostada). Essas são as portas ignoradas. As portas que apenas estão ali, destrancadas ou até encostadas, pois acreditamos que algo em algum momento pode entrar, algo que faça sentido e tenha um significado.
A porta que reservo pra você é uma dessas. É uma porta enorme, de um tamanho até meio desproporcional. Veja, essa porta nada mais é do que uma construção – ela tem o tamanho do seu tamanho dentro de mim –, e esse tamanho no momento é indiferente. O mais importante agora, Luisa, é que você saiba que essa porta está sendo ignorada. Quando quiser passar, fique à vontade. Se quiser nunca mais entrar, está permitido também. É uma conclusão meio melancólica, eu sei, mas quem foi que disse que melancolia é ruim? Sempre entendi melancolia como um conceito relacionado à mudança, à desconstrução, e azar o seu se quiser ir procurar no dicionário só pra me contradizer (o que seria bem a sua cara).
Confesso que chorei. Mas foi um choro tão saudável que você se surpreenderia. Foi um choro de melancolia aos meus moldes. Me bateu um arrepio, me bateu uma dor (que eu achei exagero, verdade) e uma alegria que nem sei de quê. E, com isso tudo, sinto que cresci.
Não te cobro mais,
pelo menos não deveria.
Não te ligo mais,
pelo menos não deveria.
Nem espero nada,
ou, pelo menos, (tenho a impressão de que) não deveria.
Vai com Deus (nunca escrevo Deus com maiúscula, mas você gosta que eu sei). E não esqueça que essa porta sempre vai estar ali, encostada.