Todo assunto morre, e a morte faz parte da natureza dos assuntos, isso quando não é o próprio.
Cada qual terminando o sexto latão de cerveja. O Nego, cuidador de carros nas proximidades de um bar temático e idiota qualquer disse ao companheiro de conversa, ignorando, claro, o cansaço dele – com a vida, com aquela noite, com aquela companhia, com aquela falta de sentido em tudo:
– Mas é foda, né, cara… – esperou pergunta.
– O que que é foda? – ouviu pergunta.
– Sabe dessa mina aqui do predinho aqui? – apontando um condomínio na esquina.
– Sabe o que de qual mina?
– A que se matou domingo à noite?
– Não, cara. Caralho, o que que rolou?
– Era Camila o nome dela. Ela brigou com o molecão que ela namorava umas nove da noite, tá ligado?
– Ahn…
– Aí o cara foi embora da casa dela, que era no quarto andar.
– E aí?
– Aí ela ficou tomando vodka e cheirando pó sozinha até umas quatro da manhã.
– Nossa, véio. Isso tudo de tristeza?
– Sei lá, cara. Gente branca é uma merda. Gente branca com grana é pior ainda.
– Isso é verdade…
– Aí ela pulou da janela, cara. Num tinha ninguém em casa, que ela tava morando sozinha.
– Caralho.
– É. Aí o porteiro ouviu o barulhão, foi ver e ela tinha atravessado a lona. Tava fodida no chão, toda esparramada, quebradona.
– Vixi.
– Pô, e a menina gata, saca? Bonitinha, toda coisinha, toda simpática. Era só ela descer aqui até uma meia noite, que eu ainda tava aqui, e eu subia pra ouvir ela chorar as pitanga e pracabar com a tristeza dela.
– Hahaha…
– Tô falando pucê.
– Foda, Nego.
– Num é?
– É.
Marco Antonio Santos