O que fizestes com tuas brânquias, oh criatura? Pensas então que não eras mais feliz em barbatanas? Abandonastes o que te deram, os benefícios com que a natureza lhe proveu. As facilidades vencedoras das dificuldades. As adaptações. Eras melhor, criatura! E veja o que fizestes dispensando tais atributos.
Oras, por que, criatura!, por que abandonastes? Não sabias você o que tinhas atado ao seu corpo singelo? Não que singelas fossem frágeis, eram fortes, como eram! E ainda assim trocastes tuas fabulosas habilidades por rotas e deterioradas falanges, parcos acessórios de coisas caídas e depreciadas. De devoluções.
Onde largastes tuas nadadeiras? Dorsais e branquiais, elementares, impactantes adereços de sua fisiologia, de suas impressionantes hidrodinâmicas. Habilidosas características de criatura tão espetacular. E, ao mesmo tempo, de criatura tão ingrata pelo que tivera.
Não aceitardes as possibilidades anatômicas que se lhe criaram, que se lhe deram. E de maneira grotesca abandonastes o torpor líquido. Abandonastes a flutuância, maldita criatura! A capacidade de estar solta, livre, e mergulhante em três dimensões. Deixastes o líquido, a vida, e as possibilidades. Deixastes nadadeiras, barbatanas e brânquias para trás.
Em troca de quê, estúpida criatura? Em troca de pulmões controversos. De brônquios. Que criatura incipiente trocaria lindas brânquias por defectos brônquios? No entanto, tu fizestes, abandonastes o líquido todo que te deram. E agora caminhas bípede, balbucia palavras, e explode coisas. Tivestes tuas chances, mais de uma, por certeza mais de uma. E infelizmente abandonastes barbatanas.
Jhonny Castro