
Senhor luiz, um lugar – chamou Carla, a recepcionista da noite. É uma moça bonita, como um cartão de visitas daquele restaurante tradicional, que hoje está mais lotado do que a prudência aconselharia, mas não mais do que os outros da cidade. luiz, um lugar, ela volta a chamar quase impaciente, e até mesmo na dúvida se a anotação estaria correta, ou seria mais um 7 meio apressado, que se passa pelo 1 solitário. Não é o caso. Os casais à espera soltam risinhos abafados, provavelmente imaginando um rapaz jovem sem companhia para aquele 12 de junho, e portanto menos merecedor que eles daquele jantar, e principalmente, daquela mesa que comportaria tão bem um casal de apaixonados. No canto levanto da cadeira e sigo Carla até minha mesa, com a consciência de que a saudade é tão grande que já não me cabe inteira, e que as pessoas descobrem isso desde o primeiro segundo em que me veem, e agora me olham com dó, enternecidas pelas décadas que me separam de você e fazem com que eu seja só saudade. Vinte e cinco anos sem você, e as pessoas continuam a me ver assim. Sou saudade. Sou amor. Sou seu, meu bem. Hoje seria nosso aniversário de namoro, ou pelo menos do dia em que te beijei e comecei a viver por inteiro, sem saber que a vida por inteiro seria interrompida na metade. Nós tínhamos tantos planos, tantos desejos, tantos anos, e hoje temos uma distância intransponível entre nossos sentidos. Brincando com a verdade, digo que se eu morrer repentinamente vai ser de saudade da sua voz, porque afinal, como se mata a saudade da voz de alguém? A nossa foto ainda se mantém na cabeceira da cama, mas por mais que eu fale com ela, com você, meu amor, a resposta nunca me soa aos ouvidos acariciando meu cabelo como você fazia e me enchia de vontade de viver, simplesmente pra ter você ao meu lado. Por muitos anos o medo de esquecer sua voz me assombrou de tal forma que passei a te ouvir em todos lugares, o que só fez com que os dias passassem mais lentos, atrasando o meu retorno ao seus braços, me colocando na lista de extinção junto com o mico-leão-dourado e outros animais mais fofinhos do que eu. Já não tenho mais certeza se sua voz era como minha mente reproduz, mas sei que logo vou poder te abraçar de novo, e então poderei ser feliz por inteiro mais uma vez, mas prometo que vou deixar tudo certinho por aqui, como você me fez prometer naquele dia. Nossa menininha já vai casar, e levá-la até o altar é a última coisa que eu posso pedir ao nosso bom Deus antes de te encontrar. Isso, e que o Brasil seja campeão dessa Copa! Mas eu sei que você não gosta de futebol, e hoje a noite é só nossa. Até deixei de assistir ao jogo de estréia com o pessoal do banco porque vir aqui, neste mesmo restaurante para pedir o seu prato preferido, lembrar do gosto da sua boca depois de tomar vinho, de voltar te segurando até o carro fingindo estar mais bêbado que você para que você não se sentisse mal, tudo isso mantém você aqui ao meu lado. Não como uma alma penada que ainda não achou seu lugar, mas como uma lembrança viva que faz o vazio do meu coração ser um pouco menos oco, porque o corpo morre, mas o amor vive enquanto as memórias forem doces. E você sempre foi puro açúcar. Feliz Dia dos Namorados. Eu to chegando.
André Petrini
Foto: “El Gabo” – Davide Gabino / cc