
Aos 5 anos, quando eu torcia para acabar a escola e poder casar com a menina que eu amasse, não poderia imaginar que chegaria à vida tardia com seis ex-esposas, largado em um asilo com uma quenga escondida no armário e a polícia revirando os quartos em busca da minha marijuana.
Eu costumava ouvir novelas o dia inteiro, e como um voraz autodidata, aprendi a arte de amar como um latino-brasileiro. Passava semanas sentado sozinho no recreio analisando os movimentos das meninas, suas brincadeiras, as tranças em seus cabelos, e ganhava o dia quando um vestido subia mais do que deveria. Foi assim que me apaixonei por Amélia, com suas tranças longas e o vestido azul ensolarado que a irmã mais velha usara no ano anterior. Ainda lembro de seu cheiro, que eu podia sentir de qualquer parte da escola, mas que agarrou minha alma no dia em que pisquei para ela no corredor. Nosso primeiro beijo foi no ingênuo banheiro misto, após muito planejamento para que conseguíssemos estar juntos sem que ninguém desconfiasse. Nunca mais tivemos outra oportunidade, mas meus dias se resumiram a criar planos para ficarmos lá por mais tempo, e meu sonho era não precisar devolvê-la para o mundo.
Amélia não voltou para a escola no ano seguinte, e tampouco tive notícias suas, mas aquele amor despedido era a minha motivação para continuar a busca definitiva. Antes da metade do ano já agradecia ao destino por não ter fugido com Amélia para a praia, como tantas vezes vislumbrei. Com o abandono, as rádionovelas passaram a não ser suficientes, e foi então que conheci a poesia. Tudo era tão lindo e sofisticado, que eu não resistia à tentação de recitar os versos em voz alta mesmo sem entender a importância de cada palavra, até que certo dia um dos rapazes ouviu e ficou fazendo graça junto com a turma. Antonia, a menina mais charmosa da escola, também ouviu, e gostou.
Passei três semanas treinando caligrafia por várias horas, até que minha letra pudesse representar todo o meu desejo, e escrevi a primeira carta para Antonia. Ela respondeu no dia seguinte, em um papel de carta rebuscado, mas sem escrever o próprio nome. Assinou com um beijo de batom, e eu achei aquilo de uma sensualidade fantástica porque na época nenhuma menina usava batom. Era como se ela tivesse se vestido de mulher para me escrever.
O estranho é pensar que hoje é justamente uma marca de batom que fez a Loraine se esconder no armário, enquanto eu tento fumar rapidamente o que sobrou da erva que ela trouxe. O quarto já está com o incriminante cheiro da fumaça misturado ao perfume barato da moça, e a polícia acabou de chegar ao meu corredor, batendo de porta em porta.
Sem pensar muito, passo o batom dela em minha própria boca e visto seu vestido apertado por cima da roupa. Quando os canas entrarem terão a imagem de um velho transviado à sua frente e vão me falar algumas besteiras que não vou nem lembrar, o que é melhor do que ser expulso de um asilo por safadeza. Não sei quanto tempo falta para acabar isso tudo, mas eu não vejo a hora de poder sair deste lugar para casar com uma mulher que eu ame.
André Petrini
Foto: prettyinprint