
Um dos maiores fardos a se carregar é o do potencial. Quem tem potencial deveria estar fazendo alguma coisa importante, mas provavelmente está perdido entre um post e outro do Facebook. Eu tive potencial por muitos anos da minha juventude. Depois as pessoas pararam de falar isso, mas ainda não sei o porquê. Talvez eu tenha ficado velho, e ninguém vê potencial nos velhos. Talvez eu tenha finalmente atingido o que elas esperavam, ou simplesmente perceberam que na verdade eu era só mais um, e que elas erraram em acreditar que eu poderia ter feito algo que mudasse o mundo. O problema foi eu também ter acreditado, e hoje vivo em busca de um sentido para a vida. Um grande propósito onde eu possa fazer mais. Algo que me faça levantar da cama todos os dias, e que não seja o Tango precisando aliviar suas necessidades. Mas nessa época do ano é ainda mais difícil. A Primavera chega, abrem-se as flores e fecham-se os nossos olhos. São tempos difíceis para os alérgicos com potencial.
Por outro lado, Teresa parece ter nascido sabendo seu lugar no mundo, confortável em viver as horas de sua vida. Sempre a vi como uma mulher que não gosta de pagar caro pelas coisas. Em suas múltiplas personalidades, todas são econômicas. E todas têm aversão profunda ao toque em seus pés. Uma vez me contou que, quando criança, dizia que quando crescesse queria ser a mulher do Tio Patinhas, para guardar aquele dinheiro todo e comprar uma nuvem voadora que a levasse para qualquer lugar. Não sei o que deu errado para acabar se enrolando comigo. Talvez ela também tenha visto algum potencial em mim, à sua própria maneira. Ou talvez eu tenha conseguido disfarçar bem nesse tempo. Ela sempre soube falar sobre qualquer coisa, e continuava horas divagando, perdida em seus próprios pensamentos, sobre um assunto que merecia pouco mais do que duas frases. Por outro lado, eu sempre soube ouvir. No final, são as amenidades como essas que nos mantêm perto daqueles que amamos e, juntos, sempre soubemos preencher nosso amor com o dia a dia. Fosse ela uma pessoa quieta, e viveríamos em um abismo inquieto de segredos.
Na última semana comecei um projeto novo. Nada que valha a pena detalhar para você, mas foi um projeto no qual eu tive que dedicar algumas horas do meu pensamento e me ajudaram a levantar da cama com alguma disposição. Mas agora preciso esperar pela resposta de gente que, aparentemente, tem mais o que fazer do que me dar uma resposta. É o tipo de coisa que já faz meu mundo rodar em outra velocidade. O problema da ansiedade é que ela te obriga a viver cada segundo do presente, quando tudo que você mais deseja é passear um pouco pelo futuro. A minha sorte é que tenho a Teresa para falar por horas sobre os benefícios do suco verde e completar esse vácuo no qual eu me joguei. Porque se o potencial é algo que empurra a nossa realização para o futuro, pelo menos eu sei que estarei com ela quando ele finalmente chegar.
Escrito por André Petrini