Esse pacote não me convence mais 0 1146

Crianças, afastem-se, eu cuido disso

Melhor começar esse show logo!

Que crianças encantadoras!

É melhor você começar isso logo, vamos lá, trompetes e saxofone!

Eu não acredito em instrumentos, a alegria deles é equivalente a uma punição

Calma, calma, a cabeça deles que é um buraco de fezes asqueroso

Não existe pessoa no mundo com a capacidade de cultivar genuinamente feliz esse hábito edificante

Os nazistas nunca conseguirão entrar aqui

Sério? Eu achei que nós éramos os nazistas

Por que os seus amigos são tão sujos?

Sai fora! Por que os seus são tão bêbados?

Com vocês, os poderes do crescimento da hipófise

O que você está lendo, algo sobre cães?

Não, algo sobre meninos perdidos no deserto de Sonora

Só ouvi quando tocaram a marcha fúnebre

Aquela noite foi uma loucura

Será que posso rezar por aqui?

Veja, são os soldados de Deus!

Alguém aqui já leu Levíticos?

Alguém aqui já assistiu “Uma linda mulher”?

Foi assim, perfeitamente

Um tribunal juvenil, uma corte regida por crianças, é uma infantocracia?

Trompetes soando e os saxofones introduzindo um solo novo

Jamais será possível reconhecê-los a partir destas imagens

Um retrato do protestantismo e do revisionismo contemporâneos

Não, nada disso, são textos soltos sobre gente que nunca brigou

Eu apoio os direitos individuais

Apoia porra nenhuma!

Precisa-se de uma babá ou de um general de verdade?

Os dois, e que de preferência saiba jogar Xadrez!

Vamos lá tomar a sopa da sopeira

Lei do ataque sem trégua

Mergulho até as profundezas

De olhos bem abertos

Então você verá

Vai ser perfeito

Pique esconde

White peaks after shift

Three times per week

Me and my Goodfellas

Parece uma boa tentativa

Eu tinha planos, eu ia ser um cara daqueles vidrados

Você sabe como são os homens

Nós temos de ficar lendo isso tudo que está impresso, são muitas horas

Ele vai levantar, espera só um minutinho

É uma honra senhor

Ovelha perdida, é isso aí

Acho que não tem lugar pra mim aqui

Tô meio tremendo

Descobriu quem será o homenageado desta semana?

Você ficará chocado!

A única coisa maior que você é você amanhã

Foi o que disse Bartolomeu pra Homero

Day by day

Ninguém pode tocar neles: são os intocáveis, hihihi

Óh jovens sem rumo, sem censura, sem cabelo suficiente para colorir

Me solte, me solte e saia daqui

Mãe, esse é o seu vestido de casamento?!

Eu odeio ficar neurótico

Leva de volta as que sobraram

Então eu não posso sair todo fim de semana?

Eu já tenho 18 anos!!!! HUUUGRAA!

Chimpanzé xacoco

Eu vou dizer o que ninguém quer ouvir

Chega dessa palhaçada de dia dia

Esse pacote não me convence mais

Você abriu um precedente de testemunho contra todas a pessoas do mundo

Defesa, ataque, são todos amigáveis

É apenas um ritual

Você quer brinca ou não?

Eu gritei: alguém ai está disposto! Porque isso dói, isso dói tanto!

Vai, julgue senhora controladora, só você foi intimidada nesse contexto todo? Acha mesmo

Meu irmão vai ser condenado injustamente

Agora some logo daqui

É hora de ir embora, você não pode realmente ajudar

Bondade é pura covardia

Ei, mas que droga é essa?!

Estão me chamando

Crianças, como eu amo todas elas

Às vezes nem tanto

Eu não conheço bem os apóstolos originais

Apenas aprendi o necessário

Pra dizer a verdade, eu sempre prestei bastante atenção nas aulas

Justiça seja feita

Sem trilha sonora de Star Wars

De que lado você está?

Do lado do meio!

Difícil de acreditar

Eis aqui a verdade sobre um doador de órgãos

Caso encerrado

Espero que você siga a tendência de ser bom daqui pra frente

Em último caso, se torne um herói

Mas não daqueles que acaba com as mãos na cabeça

Que bom, amei essas suas flores na barba

Se eu te disser uma coisa, você diz que acredita?

Ahahahahahaha

Não acostuma, não posso ficar sempre falando que é aniversário da minha avó

Mano, se liga, tem um percevejo vivo ainda!!!

Sério, parei agora, chega desse negócio de meme verbalizado

South America MOTHER FUCKER

Eu tô engolindo muito sapo, óh

O tempo tá acabando

There’s moonlight on the river

Todo mundo morre no final

Deitar-me faz em verdes pastos

Eu rezo todo dia

Talvez essa vez seja a minha

The end

Bj

 

Texto: Jadson André

Ilustração: Caroline Rehbein 

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Já não se criam mais homens de barro, apesar de continuarmos nos esfarelando. É aceito que hoje somos compostos por água e ansiedade. De barro só os tijolos, com que se ergueram os muros de nossas casas e prisões. A ansiedade só cresce.

Na primeira vez em que fui visitar o Jaime na clínica ficamos em silêncio por quase uma hora, quinze anos de amizade nos poupam de certos diálogos dispendiosos. No momento de ir embora ouvi com clareza o que seus olhos me diziam, não podia abandoná-lo, e não o fiz. Na semana seguinte houve a necessidade de falar, de abraçar, de chorar; é difícil permanecer impassível quando seu colega de quarto é internado após tentar serrar os pulsos com um serrote, dessa vez era isso que seus olhos e braços me diziam. Os suicidas estão à procura de sua própria justiça, na qual a morte é a sentença final. O Jaime não era um suicida, ao menos não nos moldes convencionais, já que tomar uma garrafa de destilado por dia vinha se mostrando uma técnica efetiva para findar com sua vida. Seus sorrisos tornaram-se raros, pequenas ilhas de alívio no caos murado da instituição; os espaços cada vez menores, a alma tumultuada, a mente entulhada. Não sei o que tive mais medo de ver, se um surto ou a depressão profunda, um conforto mórbido me tomava ao vê-lo flutuar entre ambas hipóteses. Foi na décima terceira semana que decidimos que algo precisava ser feito.

Nunca concordei com essa internação, entendo-a, não é fácil para família alguma ter alguém fora de controle, mas não posso compactuar com isso. Lá fora o Jaime era a materialização da beleza na desordem, um furacão que arrasa um campo de rosas para se encher de cor, aqui ele não passa de um sopro, incapaz de espalhar as pétalas de um dente de leão. Onde esse ímpeto se perdeu? Na abstenção do álcool ou da vontade própria? Troquei minhas mágoas pela vergonha depois de descobrir o motivo de não ter sido ouvido em algumas visitas; certo dia trocaram o Jaime de quarto, sem consentimento algum ele foi amarrado em sua cama e transferido para outro cômodo, frio e com janelas menores. A crise de identidade se apossou dele, não se sentia mais um homem, era agora objeto. Não tinha mais nome, por isso não atendia quando o chamavam, tornou-se coisa, dessas que trocamos de lugar por mero paisagismo e descartamos quando causam problemas. Definitivamente, não existe amor sem empatia.

Uma hóstia podre e carcomida pelos vermes ainda é o corpo de cristo? Era a pergunta que me fazia todos os dias em que tinha que encarar um Jesus deteriorado na sala de espera da clínica. Dois mil anos com os pulsos pregados, quanto tempo mais era possível aguentar esse tipo de tortura? Na décima quarta semana cumpri com o combinado, depois que o Jaime voltou a ser alguém, a gente mergulhou num saudosismo afável, de quando éramos quem queríamos ser: bêbados que culpavam o álcool pelas próprias frustrações artísticas.

Pouco dormi na semana que antecedeu esse dia, nos momentos em que o cansaço venceu a angústia sonhei com prédios ruindo, maldito sonho que não me abandona. Deixei o carro embaixo da figueira de sempre, há quem diga que ela é a árvore da vida, também dizem que foi onde se deu o enforcamento de Judas Iscariotes. Minhas mãos suam, agora seria incapaz de dar um nó em qualquer corda. Como já me é habitual, encaro Jesus, com todas as minhas dúvidas.

Enfim chamam pelo meu nome. No caminho até o quarto o enfermeiro elogia minha decisão de trazer toddynho e trakinas para meu amigo, diz que nos últimos dias os internos passaram à pão e água, só meneio com a cabeça. É minha vez de engolir as palavras, sento em frente a ele e respondo com os olhos o seu questionamento. Trouxe? Estico a mão e lhe entrego, sinto medo, receio, vontade de me livrar logo disso e seguir em frente. Ele sorri nervosamente, a ansiedade lhe obriga a contrair seu maxilar, tomado pela dúvida, se espera o momento certo ou se entrega agora. Suo frio, quero ir embora, mas não consigo nem me levantar, nem virar o rosto, ele fura a superfície de alumínio com o canudinho e bebe tudo num gole só. Sorri com leveza, me abraça com calor, me pede pra voltar na semana seguinte. Vou embora me arrastando, as costas arqueadas carregam o peso de uma cruz, quantas mentiras conseguimos contar durante a vida?

Procuro no calendário onde foram parar os dias da semana que se foi, não há negociação, já é véspera de visita novamente. Encaro a prateleira do supermercado, água de coco ou suco de laranja? Nunca fui um bom alquimista, li dia desses que vão menos conservantes na água de coco, sei lá que diferença isso faz. A cena é cinematográfica, chego em casa e busco a sacola com meu kit, me sinto um coadjuvante de Trainspotting com uma seringa pontuda em mãos. Furo o fundo da caixinha de água de coco e retiro metade do líquido, a mão que segura a garrafa de vodka treme, encho novamente a seringa e preencho a embalagem usando o mesmo furo de antes, tapo a abertura com um pedaço milimétrico de durex. Torno a pegar a garrafa de vodka, a mão ainda tremendo, sirvo uma dose e bebo num gole só. Choro, por mim e por todos os bêbados que insistiram em criar descrença em seus queridos. Sóbrios ou não, permanecemos assistindo a ansiedade tomar conta.

Crédito da Imagem: Robert Mapplethorpe

Chegada 0 6521

hoje recebi sua mensagem
Estou chegando, prepare a casa
e meu coração pulou afora
bateu amor por toda a cidade

conto os dias, conto as semanas
conto para todos
Ela está vindo!

hoje recebi sua mensagem
Estou chegando, mas levo ainda um pouquinho
e antes de te ter em meus braços
já tenho em todos os sonhos do mundo

conto os dias, conto as semanas
conto para todos
Minha menina vai chegar!

hoje recebi sua mensagem
Estou chegando, já não falta mais tanto
e prevendo as noites com você,
me vejo em claro sonhando

conto os dias, conto as semanas
conto para todos
Vou ser pai