postado por Rafaé.
A casinha branca, de longe, se confunde às vacas, em meio ao verdidão do pasto. Vista daqui não se percebe vida, salvo os dias em que o fogão a lenha trabalha. A chaminé baforando me parece um convite para um agradável refúgio do frio. Nunca soube nada a respeito de quem alimentava a tal chaminé. Até que minha curiosidade superou a prudência.
Naquela quarta-ou-sexta-feira o tédio me consumia. Após envelhecer aqui, o único local que ainda não explorei é essa tal casa – que de longe parece uma vaca fumegante. Pra ser sincero, há uns cinquenta anos que não me aventurava em explorações. É, mais um prazer guardado no passado. Novamente o novo me seduziu. Desconforto a parte, embarquei.
Camuflado no pomar, me aproximava. Em meio àquela tensão, o nó na garganta me lembrava as inseguranças da adolescência; ou as malditas provas de aritmética. Mas, assim como na juventude, estava decidido a encarar mais esse desafio. A única diferença é que certamente não teria o mesmo fôlego pra fugir, caso ocorresse algum provável-imprevisto. Assim fui.
Chegando próximo às goiabeiras, me distraí com o aroma. Aquele cítrico reforçava ainda mais minha jovialidade. Podia sentir o azedo em minha língua – salivei. Mas como nem só de lembranças se faz uma exploração, continuei. De bruços avancei e, assim que saí de trás das árvores, o diagnóstico: não havia casa alguma naquela localidade. Apenas umas três dúzias de vacas. Quanto à fumaça, descobrirei em minha próxima expedição.