postado por Rafaé
Mariana era do tipo leve. Não que sua silhueta se assemelhasse à de um manequim. Mas sua ternura contagiava a todos que a conheciam de verdade. Pois à primeira vista, sua distração era constantemente confundida com esnobismo.
Várias vezes a ouvi dizer que se sentia como o ar contido em uma bolha de sabão. Preso, mas leve, voando. Sem medo do momento do estouro. Pois sabia, não haveria queda. Apenas seria absorvida pelo todo.
Nunca a vi apressada. Mariana era dona de todo o tempo do mundo. Passava dias vivendo intensamente-poucas-coisas. O que de certa forma me afligia. Sabe aquele pensamento de “o tempo tá passando e eu não tô fazendo nada”? Mas a ternura com que Mariana se entregava, parecia cúmplice desse rolar do tempo. Se é que o tempo rola, ou passa.
Há cerca de 30 anos não a vejo. O tempo, pra mim, passou. Não sei se bem ou mal. Mas percebo o quanto questionei momentos que vivi, sem me entregar sinceramente. Talvez nunca tenha entrado em uma bolha de sabão. No máximo, fui aquela espuma que, ao chegar na ponta do canudo cai em queda livre, pra secar no chão.
Tenho saudades de admirar Mariana, que nunca soube da minha admiração. Sempre cultivei amores platônicos. E todos foram com ela. A amei de várias maneiras. Espero que a bolha de Mariana não tenha estourado…