postado por acidente Rômulo, o fundador
O prédio tinha várias janelas. Considerando que devia ter uns quinze andares, era de se esperar que tivesse muitas janelas. Mas o intrigante era que, entre elas, havia uma janela pequena. Só uma janela pequena. Em uma mesma coluna de janelas que davam para a sala dos felizes moradores, um dos apartamentos tinha uma janela pequena. “Por quê?”, me ocorreu. Qual diabos seria o motivo de apenas um desses moradores ter em sua sala uma janela pequena? Não que a janela fosse pequena feito janela de banheiro, não me entendam mal. Era uma boa janela. Mas muito menor do que o esperado para uma janela dessas que aquecem e iluminam uma sala com a luz do esbranquiçado sol curitibano.
Parecia simplesmente errado. Como viveria o pobre coitado? Devia sentir constante falta de ar… Fora que – e esse pode até ser um ponto positivo – nos dias de folga ele talvez nem acordasse com a luz batendo na cara (confesso que não reparei se tinha cortina; talvez tivesse, o que diminuiria a relevância desse trecho).
Me perguntei também sobre o barulho. Em certo momento da vida, tentei fingir que gostava do mais completo silêncio para dormir. Tudo mentira. O fato é que eu sinto uma solidão bizarra quando não ouço pelo menos um carro passando a cada duas horas na madrugada. Também não é como se eu curtisse dormir ouvindo desfile de escola de samba, caro leitor. Mas gosto de ouvir um carro fazendo barulho ou um bêbado ocasional fazendo arruaça. E aí? Aquela janelinha dá conta? Sério mesmo, eu duvido.
É com certeza uma lástima a vida do coitado. Deve se chamar Eugenio. Sempre acho que os estranhos se chamam Eugenio (não lembro de ter conhecido um Eugenio). E o pior é que se um dia ele se der conta da tristeza que lhe acomete, não vai conseguir pular por aquela pequenina janela, tadinho.
muito bom =)