postado por Rafaé, o andrógino
Nasci e cresci assim, de maneira fragmentada. Tenho pra mim que essa ideia de que a infância é a melhor fase da vida só vale pra quem olha do mundo adulto. O que tenho do meu mundo de criança são os planos: ser uma grande “fazedora” de bolos, professora e veterinária. Bolos, faço pouco. Professora virou um ofício que executo com certo prazer. Animais, bem, meu último peixe morreu de causa desconhecida. Acho que foi o pH da água. Foi a explicação mais convincente que achei no Google, quanto à cor que ela ficou (um verde pouco convidativo pra vida). Pelo visto, o coitado ficou uns cinco dias boiando com a barriga-estufada pra cima, enquanto eu corrigia provas e stalkeava algumas obsessões na Internet.
Quanto à adolescência, aí sim. Os amores. As certezas. Pouca coisa restou, além das lembranças de um período realmente bom. As eternidades. Tão breves quanto o prazo de validade das cartas, posteriores e-mails. Bons dias aqueles. Na escola. Em casa. Em tudo o que acontecia. Ou será isso um trabalho da memória, corrigindo o passado, adequando-o aos interesses de hoje?
Minhas memórias, minhas opções.
Foi assim que construí minha personalidade. Poucos riscos, muitos aprendizados. Cicatrizes duraram o tempo necessário. Hoje não carrego marcas. Apenas as dos meus desejos, que me consomem até libertá-los.
então. quer casar comigo?