escrito por Deisy, a intrépida
No momento, saltam do couro cabeludo de Camila alguns fios brancos, facilmente notados entre suas graúdas madeixas onduladas e negras. Fios que lembram alguns rabiscos de giz no quadro negro. O mesmo quadro que a professora da escola primária desenhava as formas do ovário feminino na aula de educação sexual.
Os mais velhos da família diziam que cabelos brancos denotavam preocupações ou frustrações mal resolvidas, mas ninguém compreendia o porquê de Camila tê-los, já que tinha apenas vinte e poucos anos.
– Que coisinha estranha esses cabelos brancos. Tem que pintar, tem que se ajeitar – resmungava Tia Clarice.
A pequena simplesmente achava charmoso aquele toque em suas madeixas.
Menina dedicada, sempre disposta, nunca alguém a viu negando qualquer migalha de atenção ou ajuda. Ela estava ali, até mesmo para as pessoas mais desprezíveis que esse e o outro mundo já tiveram algum contato.
Isso fez dos seus ombros muito pesados para o seu pequeno corpo suportar. Em cada calo se faziam sentir muitas histórias, amores, dificuldades e, enfim, a vida de qualquer pessoa, menos a dela.
Camila vivia para os outros. Vivia para lembrar-se dos remédios de sua avó diabética e hipertensa, para escutar meia dúzia de amigas e seus casos amorosos frustrados. Vivia para evitar o sofrimento de quem lhe pedisse um pouco de amor. Não pedia nada em troca. Sorrisos a faziam sorrir.
Tinha sonhos secretos, que sonhava acordada. Queria viajar pela Europa. Não pelo glamour ou pelo chá das cinco, mas pela beleza, pelo romance de Paris. Sonhava em ser artista, em pintar sonhos. Gostava da ideia de correr atrás das borboletas. Amava Diógenes, um não tão belo homem, que a fazia sorrir, mas também sentir, no peito, pontadas dolorosas de um amor não correspondido.
O mundo gira. Camila não vai para a Europa, não fala sobre seu amor para Diógenes. Menina jovem, não teve tempo de viver os seus sonhos.
O tempo voa. Camila nos deixa aos 27 anos, levada por uma doença rara no coração. Segundo os médicos o corpo estava muito pesado e o coração crescia mais do que o normal, cresceu tanto que parou de bater.
O futuro chegou e o mundo esqueceu daquela menina de sorriso doce e coração enorme. Dizem que, próximo ao seu túmulo, são encantadoras as margaridas e borboletas azuis que estranhamente rondam aquele espaço.
O que se diz quando se chora antes mesmo de terminar de ler?
Sem palavras…
OWHH! Valeu Lelindooo! o/
Lindo Deisylaine.
É NÃO É! 🙂 Obrigada Ana Nolli o/
Lindeza, Deisy. Uma bela estreia! 😉
“, cresceu tanto que parou de bater.”
Pena não caber tanta coisa no tórax…
Este texto me lembrou esse poema aqui(Não faço ideia de quem seja o autor):
O CORAÇÃO
QUE DE TANTO BATER,
PAROU E PENSOU.
PORQUÊ BATER
SE BATER, SÓ TRAZ DOR
RESOLVEU NÃO VOLTAR
A BATER, DESDE ENTÃO
NÃO SENTIU MAIS DOR.
Bonito poema 🙂
Linda Borboletinha, voaaa, voaaa 🙂
meus parabéns, eu sempre acreditei em vc. minha filha nº1, você tem potencial, se escrever um livro será bscelle. beijos. minha baterflai.
Valeu pai =)