
– Oh, então. Nem ia te falar.
– O quê? Diz aí.
– Vi o teu marido no Tinder.
Mayara e Andressa se encontraram para um happy hour perto da Praça Osório, em Curitiba. Não se viam há alguns meses, e jogaram conversa fora enquanto bebiam chopp. Cada qual havia tomado uma dose de uísque no começo da noite, e naquela altura, às 21h15, a embriaguez de ambas tinha começado a se manifestar.Mayara sentia saudade da amiga. O contrário não acontecia. Andressa encarava aquela casualidade como um passatempo antes de voltar para casa e dormir tranquila, mas claro que aquele tipo de informação mudava tudo. Questionou-se sobre o como e por que Mateus, seu esposo, estava no Tinder? E a amiga, então? Isso não era só mais um daqueles modismos da internet? Coisa de menininha desorientada? Molecagem passageira? A onda atual antes da próxima chegar daqui a dois meses? Pelo visto não, mas talvez sim. Ela virou um copo meio cheio enquanto pensava em alguma resposta possível para aquele tipo de informação, mas estava difícil. Prosseguiu o assunto:
– O Mateus? Ah é? E aí?
– Olha, acho que vai ser meio foda falar…
– Fala, porra…
– Ah, mandei um coraçãozinho quando ele apareceu. Sabe como que funciona essa merda, né?
– Aham.
– Aí ele já tinha mandado um coraçãozinho quando me viu também, semana passada.
– E aí?
– A gente conversou um pouco e ficou de sair essa semana.
– Que dia?
– …
– Quando que vai ser, Mayara?
– …Sexta-feira.
– Entendi.
– Mas como amigos.
– Não, não…tudo bem. Vão onde?
– Acho que num barzinho de pagode perto de casa, que vai ter show do Ostentasamba, sabe? Mas tamo vendo. Não fica brava comigo.
– Não tô – Andressa prosseguiu o assunto, quase sincera.Mayara olhou para o relógio e fingiu que lembrava de alguma coisa. Manteve-se encarando a mesa, o chão, uma ou outra pessoa das mesas ao redor. Alguém devia ter ouvido. Talvez pior que sair com o marido da amiga, só se muita gente ficasse sabendo.
– Tô estragando nossos 15 anos de amizade, né? Nossa…
– Não. Nem meus 9 anos de casamento. Dá nada não.
– Amiga, me perdoa.
– Só pra saber: você me chamou aqui pra contar isso?
– Não. Meio que escapou.
– Entendi. Então vocês iam sair sem me avisar?
Elas nunca mais seriam vistas rindo juntas. Andressa entendeu, então, que Mayara não havia superado a fase de quando se conheceram, com a lógica de vida que desenvolveram no começo da faculdade, quando moravam em um pensionato e viviam de forma livre, solta, festeira. E pensou ainda que é bom que algumas coisas nunca mudem, por alguma razão.
– A gente tava pensando em como te dizer.
– Entendi.
– Desculpa.
– Não, tudo bem. Você gosta de batata frita com bacon, né?…
– Desculpa mesmo…
– …porque eu quero pedir, mas não aguento uma porção inteira.
– …
– E aí? Gosta?
– Aham. Eu divido com você.
O garçom Jefferson havia ouvido quase toda a conversa entre as amigas, mas não ficou muito surpreso com o teor. Dedicou-se a anotar o pedido delas e encaminhá-lo para a cozinha, que tinha só mais dois sanduíches rápidos antes da porção das moças. Pediu para capricharem no bacon, que ia ser bom “pra fazer uma moral”. Os funcionários da cozinha acataram a ideia. O chopp escuro havia terminado no bar. O garçom notou uma mancha de mostarda na própria calça de trabalho, e pensou que precisava comprar sabão em pó, mesmo que tivesse que esfregar aquela peça na mão devido ao círculo amarelo que agora exibia na roupa.
Marco Antonio Santos
MASSA
Ahahaha….vlwwwww