postado por Ander.
Eis que ontem no submundo light AKA lapa surgiu ao lado de nossa mesa um tipo artista velho underground oferecendo seus serviços: desenhar um retrato de alguém da roda. Talvez nunca teríamos topado desembolsar 10 pila se o tal sujeito não tivesse se apresentando como Fernandinho Buarque de Hollanda, primo de Chico Buarque, o que ficou provado não só pelo artigo num jornal amarelo e plastificado, mas também pelos olhos: idênticos ao do baluarte da ‘nossa’ música popular brasileira. A principio totalmente encantada, fiquei vidrada no desenhista que introduziu várias gírias do seu contexto no nosso e contou várias histórias.
Entre um traço e outro, chegavam vários bróders e cumprimentavam-no, talvez fossem estes uma possível velha guarda da Lapa, o que era muito divertido de ficar imaginando, talvez não, mas whatever, já que os tempos imemoriais da malandragem carioca ultrapassam qualquer obrigatoriedade com a veracidade da história. Afinal fantasiar sobre o que não se viveu e encarnar no coração esse espírito do passado é feito pelos seres humanos a todo tempo, quando buscam algum traço mais lúdico para a própria existência.
Fernandindo trampa no jockey club do rio de janeiro as sextas, sábados e domingos, cuidando de potrinhos, “aqueles cavalinhos pequenos” e nos convidou para visitá-lo, mora no Curvelo, ali em Santa Tereza e alegou que o dinheiro ganho pela sua arte seria destinado a alguns rolos de esparadrapo para o filhinho do vizinho, de 5 anos, que andando de skate perdeu dois dedinhos do pé.
A poesia escrita no verso do retrato disse ser de Clarice Lispector, uma homenagem, já que supostamente era o dia do aniversário dela. Mentira, não era aniversário de nascimento, nem de morte da escritora. Ele não teve um filho com ela, tampouco era Julinho de Adelaide, pseudônimo do seu primo.
Sua presença acompanhada de várias frases de efeito porém, nos serviu de história pra mais uma noite etílica e desocupada.