Postado por Marco Antonio
Elas dançaram durante as noites no céu. Em todas as noites, e todas elas. Solitárias, conforme anunciado nas entrelinhas do texto das estrelas.
Inconscientes da existência uma da outra, disseram-me em pesadelo. Não elas, mas alguém. Que elas não falam. Sequer pensam com tanto zelo.
Negligentes. Ou desapercebidas. Sinteticamente? Negligentes fingindo desatenção. Como ela sempre é. Como elas sempre são.
Eu imóvel, por vivenciar por menos de oito horas a experiência do mundo intangível. Nunca durmo por oito horas.
E nem, quando acordo, em outras horas. (Mas seria incrível).
Vai chover. Não vou acordar pra saber com certeza o quanto. E nem explico o como de saber do que sei.
É algo que simplesmente sente-se no ar. Nuvens carregadas.
Elas, paradas, me observam. O movimento retroativo. Forma-se um ciclo.
Eu as observo, elas me observam. As tensões se guiam a si próprias e se conservam. Um mexican standoff, mas estou de olhos fechados.
Meramente estranho o encaramento,
e por ter perdido tanto tempo com tal inutilidade,
me cubro com o manto do esquecimento.
Sumir era mais rápido e barato, mas estava em falta quando antes procurei.
Elas me observam e conversam entre si. Cheias de denúncias. Mas, lá vai o tempo! Maior que todos! Meu rei! E seu, que eu sei!
Enquanto elas são nuvens, eu sou trovão. E elas há muito me conhecem, e sequer sei eu quem são.
Só pode ser esta a vantagem que elas guardam por viver em outro plano de existência. Um plano superior.
E eu de olhos fechados até, no quarto, gritar o despertador. Que me avisa:
– Não, querido. O dia não vai ser bonito. A não ser que você roube dele a beleza escondida por trás de cada nuvem que chove ou não chove, de cada raio de sol, de cada flor nascendo em meio ao cimento.
A cada passo, cada respirada, cada aperto de mão, cada final ruim de texto. A cada tom piegas de despedida que você procurar ou perceber. Você é um imbecil.
Um saco velho de lixo. Um cachorro perdido. Um filho da puta. Ninguém vai se surpreender se você tentar roubar a alegria das coisas. Eu juro. Vai lá!
Cara, achei muito legal o fato de que o texto vai acumulando tensão e termina como um trovão…
Além daquela estrofe genial que já te disse qual é.
Obrigado, Murilo!
Você sabe, que é efeito das nuvens, dos artifícios e das metáforas, no entanto, né?
grande Marcola, grande texto! aquele trecho que eu já comentei é muito bom!
Marcola, marcola… a cada dia mais lírico! hahaha…
na real, a cada dia mais pimpolho!