postado por Karkão (já da casa).
“Depois da tempestade vem a bonança”. Sua avó sempre repetia essa frase nos dias de chuva intensa. Enquanto criança, nunca entendeu.
Já adulto, naquele dia, ele viu a bonança ao vivo, mesmo tendo durado só uma meia hora. Antes disso teve chuva, muita chuva. Tempestade, mesmo. E, de repente, a cidade virou sépia. Como que num passe de mágica, uma luz âmbar tomou conta daquele dia feio e cinza – e olha que ele gostava de cinza. Fora o arco-íris gigante que aparecia no horizonte só pra humilhar o céu das horas anteriores.
Apagou a luz branca, artificial e gelada e saiu do quarto. Fora, aproveitou aquele amarelado todo, aquela cor de como se alguém tivesse jogado mel no sol. Se durante a manhã (e quase toda a tarde), teve de enfrentar a amargura acinzentada, à tarde viveu as cores. Viveu um fim de tarde lindo, daqueles que salvam dias feios.
Mais tarde, entre mais raios e trovões, aquele pôr-do-sol amarelo não lhe saia da cabeça. “Se toda tempestade terminasse numa bonança dessas…”