Consciência Acorda Repentina e Violenta 01 0 644

Postado por Marco Antonio: O fantasma na neve, a lágrima na chuva.

(da minha série de bobagens número qualquer coisa)

Voltas e voltas no discurso. Muitas palavras, nenhum significado, pouca relevância no conteúdo. Reluta, reluta, reluta. Refuta o bom senso pra não assumir que não sabe do que caralhos está falando. Orgulhoso que é. Ama a si próprio mais que o nível do saudável acharia saudável, caso fosse pessoa e pensasse sobre limites. Mais que o nível de tudo, que as coisas, que as outras pessoas, que a vida, que seja.

Não sei nada sobre nada, que fique para registro. Mas descobri que a polidez que uso pra lidar com ele me rouba um tempo que não quero mais perder. O destino pode desistir de quem não se importa com ele. Passo agora, através de manifesto público, a me importar com o meu. O manifesto publica mas não necessariamente legitima minha vontade. Eu sei, amorzinho. Que seja esta a questão menor agora, tá bem? E por alguma razão ele continuou, concluindo o monólogo imbecil que fazia sobre algo igualmente imbecil:

–         Sacou?

E eu respondi:

–         Na verdade não. Aliás, eu não só não saquei, como faço questão de não querer sacar. Foda-se toda essa porcaria que você ta falando, porque eu ouvi tantos “eu” no teu discurso que não agüento mais. A ponto de abandonar o beijo no rosto, que me é pura forma de educação e de etiqueta. Você tá falando há horas e horas e não falou nenhuma vez em termos de “nós” ou de “podemos”. Eu nem sei qual o tema que você começou a abordar, meu. Se você tem esses assuntos internos na tua cabeça, provavelmente aí é onde eles funcionam melhor. Trabalha com essas coisas e me apresenta o resultado, que essa coisa de hipótese, “eu acho”, “eu sei que”, e tudo isso tá me cansando bastante, agora. Você sabe que eu te amo e te respeito profundamente, mas tá bem chato ficar ouvindo essa ladainha sem fim da porra. Sério. Poupe o seu tempo e a minha paciência em nome de um futuro melhor. E esse futuro melhor pode ser amanhã, até, sem problemas.

FIM ( ? )

Post Scriptum: o álbum “NON DUCOR DUCO”, do Kamau é bem legal (Valeu Karkolis Candal), nessa minha opinião singela. O “CERTA MANHÃ ACORDEI DE SONHOS INTRANQUILOS”, do Otto também. Já o “EMPIRE” do Bleed From Within é algo como que mais do mesmo do que eles fizeram no anterior (o que não quer dizer que é ruim, portanto).

MAS O MELHOR DO ANO POR ENQUANTO É O ATACK ATACK! E É NÓIS QUE TREME HAITI DOIDÃO!

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Distante das Linhas de Nazca 0 1277

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1213

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski